domingo, 28 de dezembro de 2014

Sofrer por amor - Uma consequência?


Talvez eu seja a prova vida de que a maturidade não se atinge através da idade e sim da sua capacidade em extrair das experiências, sejam elas boas ou ruins, reflexões sobre o seu ser. Tudo bem que se eu chegar e dizer isso para um jovem de quinze anos, principalmente hoje em dia, ele vai dar risada da minha cara, poucos estão dispostos a entender a si próprios, penso seriamente que talvez não seja extremamente necessário, porém, alguns tem que viver com isso. Já tentei fazer de tudo para não romantizar tanto a vida, não tratar as relações como se fossem filmes ou livros, mas com o tempo percebi que isso está impregnado em mim assim como o meu amor por sofrer de amor. 

Tá, eu não curto sadomasoquismo, não leio "Cinquenta Tons de Cinza" e nem essas outras bizarrices-complexas-sexuais. Quer dizer, depende, não há um estágio que não possa piorar mais. Talvez amanhã vire um escravo sexual de uma bela asiática, poderia escrever sobre isso até, fazer um roteiro e mandar para o Tinto Brass, ou poderia virar Hentai. Acrescentaria um cavalo marinho, de forma a criar um triângulo amoroso e seria emocionante. 

Enfim, a minha imaginação é fértil e o que eu faço o dia todo é criar. Criar questionamentos e possíveis soluções, na verdade, é muito irritante, isso só ameniza quando assisto um filme ou leio um livro e me vejo sentindo o que os personagens sentem. E talvez tenha feito isso demais, ou me identificado demais. A linha é muito tênue e, honestamente, eu não sei a resposta. Porém me vejo como uma pessoa que ama o amor que dá errado. E isso talvez seja muito perigoso, eu estou tão acostumado com histórias incompletas, que vejo o amor ideal como metade de algo maior. Enfim, como se o fracasso, de algum modo, fosse estimulante. Talvez me apegue demais as lembranças, e esqueça que o hoje também é um bom dia para amar. 

As mulheres são resultados perfeitos da máquina de criação do universo. Nós, homens, somos ambiciosos ao ponto de não ser honesto em dizer que, tamanha grandiosidade, nos assusta. Talvez pelos detalhes, é tudo uma questão de detalhes. Mas me parece que o homem é o lado covarde da entrega. Seria tão bonito se o tratamento fosse dado e aceitado, fazendo jus ao que sentimos. As vezes parece que o sentimento é um monstro preso dentro do indivíduo, ele não consegue expressar tamanha beleza, fica estagnado dentro de um medo do que vem a seguir. Besteira na minha opinião! Deveríamos aceitar que o amor é compreensão e vice-versa. Talvez o amor não seja complicado, apenas criamos mentiras em torno disso. Provocamos uma ilusão aonde deveria existir apenas o outro.

A prioridade, acredito, não está em se entender, está em entender o outro. Logo depois de se entender, claro. Se ajustar aos medos do outro é muito complicado. Envolve muitas coisas, como a própria família, porém, é uma bela forma de crescer, pois lidar com sua patética vida solitária é muito fácil, ninguém te conhece melhor que você mesmo, as coisas ficam realmente interessante quando você se torna um julgado pelas atitudes, pelas demonstrações ou pequenos, volto a dizer, detalhes. Por exemplo, eu jamais escreveria um livro que só eu pudesse ler, como um diário. Pois eu sinto que preciso ser julgado pelo que penso/escrevo/sinto. Julgado no sentido interpretado. Me acho extremamente vazio quando só, quando não ouço interpretações sobre o que eu penso.

Desde a criação do "Cronologia do Acaso", há dois anos, eu mudei muito. Muita coisa aconteceu. Mas muitas coisas continuam, talvez por isso continue escrevendo. Eu me sinto maduro ao ponto de me importar com os sentimentos, mas inocente ao mesmo tempo. Há coisas dentro de mim que só se explicam com, quem sabe, o trágico. Parece que tudo bonito e perfeito não me atrai. Há algo no complicado que me fascina. Sentindo-me um pouco dominado pelo sentimento de perder. Ou afeição pelo quase. Se eu fosse um cantor, por exemplo, certamente seria um daqueles melosos. Onde toda música é sobre ser traído. Mesmo que essa não seja uma realidade na minha vida. De algum modo eu penso que, apesar de tudo bem, eu sempre foi procurar um ponto de melancolia para me inspirar. E, para ficar feliz, tenho que mesclar com risos. Ser diferente me fascina. Tentar fugir do óbvio de apenas viver é quase que uma obrigação. 

Não tem separação entre sofrer e amar. São frutos da mesma necessidade do homem, em compartilhar sua vida, mesmo que saiba que, sozinho, estará livre para fazer o que bem entender. A realização enquanto só, nunca parece completa. Cabe a nós separarmos até onde vai a imposição, feita pela sociedade, e onde começa o nosso querer. Chega um momento que é preciso amar, aquele gostinho de sofrimento faz falta. Então podemos ressaltar o quanto somos burros em amar sofrer por amar. Bem, não por acaso, estamos vivendo, então devemos nos entregar a tudo. Qualquer sentimento ou desejo que apareça, pule e pegue ou siga o seu coração. Claro, tentando entender os limites do momento. O momento fica sussurrando coisas nos nossos ouvidos, mas, em alguns casos, pode aparecer com alguma oportunidade única que, pelo medo, não conseguimos realizar. Mande o medo para merda. Uma oportunidade desperdiçada certamente dói mais do que tentar e não dar certo.

O ser humano tem mania de pensar no perfeito como para sempre. O "para sempre" é uma imposição. Você, vovó que está lendo meu texto e tá casada há 40 anos, beleza, parabéns, mas sem dúvida já traiu ou foi traída. Fisicamente e mentalmente. Existe uma traição em continuar junto, quando não há mais vontade. Conectados apenas pelo comodismo. Ok, entendo como é difícil. Quando se pensa em dois. Pensando individualmente, é lastimável imaginar alguém fadado a estar preso em uma situação. Tanto quanto dá pena imaginar alguém sozinho. Enfim, eu não quero chegar a lugar nenhum com essa reflexão. 

Só sei que há um pouco de sadomasoquismo em todos nós, seres humanos, especialistas na conquista, fracassados no amanhã, amantes da lembrança e bem sucedidos na arte do recomeço - ou deveríamos ser.


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