sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Magnólia


Quando tudo se complica, Deus faz chover


No melhor ou pior momento das nossas vidas só uma coisa é certo: Nós aprendemos. Talvez seja exatamente essa a razão – se é que há alguma – para nossa existência. Sempre me senti muito próximo do estranho, cresci assistindo “Edward Mãos de Tesoura” e aquela situação de novidade que tanto assustava o personagem principal sempre me encantou muito. Hoje vejo que isso se dava pela palavra, hoje tão utilizada e, no mesmo tempo tão bonita chamada: Identificação.
É estranho pensar que é possível se identificar com um monstro, objeto ou animal. Pensando bem, esse é o papel da arte... Aliás, o que será que é arte? Não sei dizer, mas eu sinto. Assim como sentia o poder que o audiovisual tinha sobre a minha vida muito antes de entender o porquê.

Cresci em uma época – ou lugar – muito boa. Onde tudo o que você assistia, jogava ou lia era compartilhado com os amiguinhos na escola no dia seguinte. Uma pena que as coisas hoje em dia mudaram um pouco, mas veja o nosso alcance! Não é fantástico? Agora com a internet podemos compartilhar aquilo que gostamos e tornamo-nos seres identificáveis, apesar da distância. 

O tempo passa, coisas acontecem e, a partir de um certo momento – infelizmente não tem como controlar isso – nós crescemos, seja por causa da idade ou responsabilidades. O mais interessante é que a informação e o sentimento passa a ter um outro propósito na sua vida: Te fazer um homem. Foi nesse exato momento da minha inútil, linda e eterna passagem pelo mundo que compreendi o cinema... Ou melhor, compreendi a mim mesmo.


Magnólia

“Talvez já passamos pelo passado mas o passado não passou por nós”

Com treze anos assisti um filme chamado “Magnólia”. Costumo dizer que tudo tem um momento certo e, apesar de achar que eu fui um pouco precoce, acredito que essa experiência me ajudou a enxergar as coisas de uma maneira diferente, mesmo que o meu redor dite o contrário.  Como um pai ensina um filho a jogar bola, Paul Thomas Anderson me ensinou a amar, me amar.

Muitos filmes contam a história de uma longa vida, poucos contam a história de um momento. Muitos mostram um só personagem e sua caminhada ao sucesso, mas poucos mostram o homem e sua origem.  Sendo assim, o ponto crucial de Magnólia está na sua sinceridade perante as eternas crianças que o assistem. Crianças que, assim como os adultos, tentam incansavelmente encontrar o amor, se encontrar.

“Eu tenho muito amor para dar, só não sei onde colocar” – Frase do Donnie Smith, personagem interpretado pelo William H. Macy

Começamos com o narrador. Ele nos apresenta três histórias que mesmo sendo tão fantástica, é estranhamente muito real, principalmente na sua mensagem. O fato é que ele abre uma
discussão sobre o que é coincidência. E, para aqueles que teimam em continuarem céticos, o narrador os convida para assistir uma grande história/verdade de 188 minutos onde será abordado o amor, destino e, principalmente, arrependimento.

Depois disso, como uma flor desabrochando delicadamente, vamos conhecendo cada personagem de uma forma que se cria um elo entre todos desde o início. Fazendo com que absolutamente todas as cenas sejam um fragmento de uma só mensagem. Todos os personagens tem um mesmo propósito, criando-se também uma linda conexão com as músicas da cantora Aimee Mann.

“Um é o número mais solitário” – “One”


Eis que surge um personagem que resume em um espetáculo para homens, toda a primitividade que nos cerca. Representando então, a essência.

“Respeitem o pênis e domem a vagina! Homens nasceram para comandar: É biológico, antropológico e animal”Frank T. J. Mackey

Isso mesmo, homens desprezam, usam, não choram... Não? Mas veja que ironia, o próprio T. J. Mackey termina o filme chorando, em uma cena de desabafo, tanto do homem quanto do universo. Sapos?!

Seja Claudia Gator e seu vício, Linda Partridge e sua culpa, Jim Kurring e sua bondade, Phil Parma e sua paciência, Jimmy Gator e sua doença ou Earl Partridge e sua morte, todos estão juntos. Não há respostas, não existe nada além de, simplesmente, existir. E, para fazer o bem, tanto para sí próprio como para o outro, basta compartilhar.
O filme termina, não por  acaso, com um sorriso, esperança. Se uma menina que fora violentada pelo pai tem a chance de sorrir novamente, então nós também temos. 

“...Como Peter Pan, ou como o Super-homem
     Você aparece... para me salvar.
     Venha e me salve
     Se você puder, salve-me,
     Do grupo dos esquisitos,
     Que suspeitam que nunca irão amar ninguém...” - Save-me


Em um tempo onde eu questionava muito as ausências que existiam em minha vida,  P. T. Anderson me deu de presente uma oportunidade. Dizem que algumas coisas acontecem independente das suas ações, mas, quando penso nisso, e lembro do quão leve e sincero foi os meus primeiros contatos com o cinema,  e da forma que ele me salvou, sinto que tudo o que nós vemos ou fazemos em nossa vida, nos transforma de alguma maneira. Esse é o propósito da vida, e, claro, esse é o objetivo da arte. 

O Show de Truman



- Nada foi real?
- Você era real. Por isso as pessoas gostam de assisti-lo.

Ganhador de 3 globos de ouros: melhor ator: Jim Carrey, melhor ator coadjuvante: Ed Harris e melhor trilha sonora original. Além de ter sido indicado a melhor filme, melhor diretor e melhor roteiro.
O Show de Truman conta a história de Truman Burbank, um bebê que foi adotado por uma corporação. O Motivo? O garoto é a peça principal de um novo Reality Show do qual um homem ( no caso Truman ) é monitorado 24 horas por dia. O Reality vira um sucesso incontrolável e Truman é amado por todos porém, leva uma vida rodeada de mentiras.
O diretor Peter Weir dirigiu grandes filmes como Sociedade dos Poetas Mortos e A Testemunha. Em O Show de Truman ele chega ao seu ápice, conseguindo unir o divertimento, simbolismo e crítica de uma forma perfeita, devido, principalmente, ao carisma de um excepcional Jim Carrey e o enigmático Ed Harris.

Ao longo do filme é discutido a importância da existência de Truman ( leia-se “ser-humano” ), um homem que trás a diversão e inspiração para o mundo mas no seu interior nunca foi completo pois, faltava verdades, um objetivo, vemos isso em uma cena maravilhosa entre Truman e seu amigo ( Noah Emmerich ) no qual o nosso herói, exuberante, cita a sua vontade de ir além, para as ilhas Fiji. Cena essa que eu tenho um carinho enorme e acredito que seja a mais importante de todos os 103 minutos de filme.
Hoje em dia os Reality Shows se tornaram baixos e sem propósitos significativos, mas seu objetivo sempre foi nos mostrar vidas, pessoas e seu dia-a-dia, nos identificamos com os desentendimentos, choros, angústias e felicidade pois, de fato, possuímos o nosso próprio programa de tv, aquele que os expectadores é a nossa família, amores e amigos. Não vejo O Show de Truman como uma crítica aos Realitys apenas, ele utiliza, de uma forma brilhante, um formato popular e identificável, para fazer uma ligação entre cinema, vida e aceitação.
Um roteiro simplesmente perfeito de Andrew Niccol que se dedica em nos mostrar o desespero/ânsia por liberdade, ousadia e superação. Fazendo com que Truman seja um herói, tanto dos espectadores do Reality Show como os que assistem a esse, que eu considero um dos melhores filmes da década de 90.

“Aceitamos a realidade do mundo no qual estamos presentes”

Para Sempre Lilya


Ao som de Mein Herz Brennt  ( Meu Coração Queima ) da banda alemã Rammstein, temos o primeiro contato com a personagem Lilya. Ela está correndo – aparentemente sem rumo – e a única coisa que sentimos, e sabemos que acontece ali, é desespero. A menina está a beira de um suicídio, e , se observarmos a música que acompanha aquela terrível situação, vemos que não haveria uma melhor forma de expressar todo sentimento que temos nessa cena.

O Filme é dirigido pelo diretor Sueco Lukas Moodysson, que fez filmes incríveis e conceituadas como: “Amigas de Colégio” – que até hoje é louvado por muito Suecos, “Um Vazio no Meu Coração” e, o mais recente, “Corações em Conflito”.
“Para Sempre Lilya” conta a história de uma jovem de 16 anos, interpretada pela carismática e linda Oksana Akinshina, que quando abandonada pela mãe em um subúrbio da antiga União Soviética, recorre a prostituição para sobreviver. Exposta aos problemas diários, a única pessoa que lhe faz companhia é seu amigo Volodya um garoto de 11 anos.
Apesar de ser um filme muito triste, a esperança está presente em todo o filme, a vontade de que as coisas dêem certo mesmo sabendo que é extremamente difícil algo bom acontecer. O sentimento é acolhedor, pois, querer ajudar é o que mais passou pela minha cabeça, e sabendo que o abandono está presente na sociedade todos os dias, nos afasta da impressão de que a história de Lilya é ficção.
Eu sempre digo que o cinema é a melhor forma de conhecer pessoas e situações, poder estar ao lado dos personagens e sentir o que eles sentem, mas, de vez em quando, aparecem filmes que tem como intenção te dar um soco bem forte, para simplesmente, acordar.
Recomendo de coração a todos assistirem “Para sempre Lilya”, um dos filmes mais honestos que já assisti.


Perfect Blue


Mima, uma estrela pop integrante do grupo CHAM, decide trocar a carreira musical para se dedicar a atuação. Logo, consegue uma oportunidade em uma série de tv. Mas ao longo do tempo, ela adentra ao mundo da exposição tanto física como psicológica, resta-lhe então, lembranças dos seus dias inocentes.

A idéia inicial de Satoshi Kon ( diretor de Perfect Blue ) era realizar o filme em Live-Action, mas em 1995 sua verba foi cortada devido a um terremoto que destruiu o estúdio de gravação. Um desastre acabou ajudando a realização de um dos melhores filmes de animação já feita na história do cinema.
 Logo na primeira cena, vemos uma apresentação do grupo CHAM, é notado o sucesso considerável que as três adoráveis meninas estão fazendo. Esta cena inicial nos mostra algo crucial, Uchida, um fã incontestável do grupo, estende suas mãos dando-nos a impressão de uma certa manipulação de Mima, algo que ao desenrolar, comprovamos o tamanho da sua obsessão pela estrela e sua imagem.
Mima, ao se tornar uma atriz, se depara com um mundo de crueldade e ganância, algo que não esta preparada para lidar. A única pessoa que a ajuda é sua assistente Rumi que se torna seu único escape de realidade e cautela. Por muitas vezes, Rumi insiste na preservação de Mima, mais ela, está invadindo cada vez mais o mundo da exposição de imagem e doação na sua recente carreira de atriz. Chegando ao ponto de fazer ensaios fotográficos nua e se submeter a uma cena de estupro. Tudo isso misturado com belíssimas trilhas sonoras e relances do atual sucesso de seu antigo grupo musical, ou seja, o exibicionismo contra a inocência.
A introdução da vida e cabeça da personagem principal é, sem dúvida, o ponto forte do filme. É extremamente cuidadoso com os pensamentos, diálogos e pequenos nuances da personagem, que resulta em uma identificação ainda maior. Algo semelhante com os filmes do gênio Alfred Hitchcock que foi, com certeza, uma fonte de inspiração para a realização dessa obra-prima cinematográfica.
Somos levados ao limite quando Mima percebe o que está acontecendo e se da conta que existem pessoas querendo se apossar da sua vida. Caímos em uma rede de  conflitos internos junto com a personagem e chegamos ao ponto de não saber mais o que é a realidade.

“Mima – E se eu morri atropelada por aquele caminhão e tudo isso é um sonho?”

Temos um desfecho brilhante e inimaginável, onde a tensão aumenta a cada instante junto com a trilha sonora. Uma das maiores sequências da história do cinema.

Termino essa análise com uma frase de Mima:

- Eu sou real!


Uma Vida Nova em Folha


Acompanhamos a história de Jin-hee que é levada pelo pai a um orfanato de freiras, a menina não aceita o ambiente, pois acredita que seu pai irá buscá-la, e faz de tudo para não ser adotada.
 Uma Vida Nova em Folha é um filme da Coreia do Sul dirigido pela diretora Ounie Lecomte e protagonizado pela adorável Sae-ron Kim, atriz que certamente tem um futuro brilhante pela frente.
É lindo quando, sem querer, acabamos encontrando um ótimo filme. Eu não tinha a mínima idéia da existência dessa excelente obra e quando olhei algumas imagens me apaixonei pelo que vi. O filme começa com uma sutileza admirável, somos convidados a viver pelos olhos da pequena Jin-hee, prova disso é o uso de câmera quando a garota está próxima ao pai. – Reparem a magnitude da cena em que ela chega mais perto dele na cama.
Quando ela vai para o orfanato, vemos a dor existente naquele coração, sem recorrer ao melodrama e trilhas sonoras feitas para chorar. O ponto forte é acompanhar uma garotinha de nove anos e não apelar para um drama infantil, os suspiros e lágrimas são tratados com respeito. Respeito esse, que exige uma surpreendente atuação de Sae-ron Kim, atriz mirim que, provavelmente, terá um grande sucesso em sua carreira.
Outro ponto forte – e talvez o melhor – é a fotografia, extremamente sutil e compacto com o visual da protagonista.
O filme estreou em 2009 e é um pouco difícil encontrar, mas com certeza vale o esforço. Consegue emocionar sem ser apelativo e nos apresentar uma personagem tão delicada que, em apenas três sorrisos, nos deixa apaixonados.


Palíndromos


“Um palíndromo é uma palavra, frase ou qualquer outra sequência de unidades que possui a propriedade de poder ser lida tanto da direita para a esquerda como da esquerda para a direita.” – Texto retirado do site Wikipédia.
O diretor Todd Solondz é conhecido por seus filmes melancólicos e extremamente críticos. Seus trabalhos são tão sinceros e viscerais que é possível sentir o prazer que ele tem em realizá-los. Prova disso é que para tirar do papel seu quarto filme, Palíndromos, ele precisou gastar todas suas economias porque ninguém queria apostar no seu projeto.
O filme conta a história de Aviva, uma menina de 13 anos, que deseja desesperadamente ser mãe. Ela tenta de todas as maneiras possíveis realizar seu sonho, mas quando é impedida por seus pais, a garota resolve fugir de casa.

Palíndromos é uma obra muito particular do diretor e sua visão sobre o mundo. A personagem principal é vivida por várias atrizes e cada uma tem uma importância gigantesca com a trama. A infelicidade está presente o tempo todo e em todos personagens, e, assim como a palavra “Palíndromo”, não há para onde fugir, fazendo ou não, mudando ou não, sempre acabará no mesmo lugar.
Acompanhamos uma história que desenvolve, com delicadeza, possíveis questionamentos sobre o aborto, e o mais lindo é que tudo isso é feito atravéz de pensamentos, momentos e reflexões de crianças. Sempre com uma boa trilha sonora, é impossível não ficar chocado com a situação em que somos expostos.
Um filme extremamente reflexivo, profundo e ousado, abusa da linguagem para levantar questões moralistas e éticas, e isso o torna extremamente provocante.


Da Servidão Moderna


“Como todos os seres oprimidos da história, o escravo moderno precisa de seu misticismo e de seu Deus para anestesiar o mal que lhe atormenta e o sofrimento que o sufoca. Mas esse novo Deus, a quem entregou sua alma, não é nada mais que nada, um pedaço de papel, um número que apenas tem sentido porque todo mundo decidiu dar-lhe. É em nome desse novo Deus que ele estuda, que ele trabalha, que ele luta e se vende”.

O documentário fala sobre a escravidão do qual somos expostos diariamente, e que muitas vezes, nem percebemos. A linguagem utilizada para nos transmitir essa mensagem é, no mínimo, chocante. Visceral ao ponto de fragmentar cenas de diversos filmes e nos apresentar fotografias extremamente simbólicas – como a famosa foto da menina vietnamita nua segurando as mãos de ícones infantis como Mickey e Mcdonalds. Se não bastasse, é usada repetidamente a técnica de aceleração, nos remetendo a rotina e nossa condição de “cordeiros”.
O ser humano acredita, ignorantemente, que é dono da própria vida e pode fazer o que quiser, porém, acaba se distanciando da realidade do qual ele, apesar de às vezes insignificante, faz parte.
Não quero ser pessimista mais em nenhum momento o filme apresenta soluções, até porque, ao meu ver, algumas coisas são irreversíveis e nesse ponto o filme se sobressaí, pois depois de trazer idéias maravilhosas – levando em consideração que nada do que é dito é descartável – o documentário conclui, claro, com o homem que acabará de perceber erros na sociedade que ele faz parte e ao invés de agir de uma maneira racional, parte para a violência, demonstrando assim a primitividade que nos move – Tudo o que os líderes queriam, não?-. Enfim é tarde demais.
É uma pena que alguns conteúdos sejam desconhecidos ou incompreendidos por muitos, pois esse “A Servidão Moderna” é um brilhante estudo sobre a nossa realidade e o quão limitado somos. Aliás, são reflexões recorrentes, mas que aqui, em uma obra tão complexa e verdadeira só comprovamos o inevitável: “O homem é o lobo do homem”.

As coisas que você tem, acabam te possuindo” – frase citada e que foi retirada de um certo filme chamado:  “Clube da Luta”. 

Terror no cinema: O Caso de Anneliese Michel

Anneliese Michel



Anneliese nasceu em 21 de setembro de 1952 em uma pequena cidade da Alemanha. Até hoje sua história é um pontapé inicial para a discussão sobre até onde vai o conhecimento da ciência e religião e qual é o mais adequado em determinados momentos de sua vida.
Não pretendo me aprofundar no seu caso – até porque o meu ceticismo poderia comprometer a experiência de alguém com os filmes – mas queria levantar alguns dados importantes:
Como disse, anneliese nasceu em uma cidade pequena e seus pais eram muito religiosos, sendo assim, ela foi criada em base a doutrina católica. Com o passar do tempo, aos dezesseis anos, Anneliese sofreu uma grave convulsão e foi diagnosticada com epilepsia. Logo ela começou a ter visões, ouvir vozes dizendo que ela queimaria do inferno e rejeitar qualquer  lugar ou objetos sagrados como água benta, crucifixos, igrejas… Ou seja, seu caso foi se agravando cada vez mais.
Depois de ser admitida em um hospital psiquiátrico a sua saúde não melhorou e, aos poucos, ela foi recorrendo à religião alegando que estava possuída e precisava ser exorcizada.
No fim, depois de passar por mais de 50 sessões de exorcismos e chegar ao ponto máximo de degradação, ela morreu por desnutrição e dizem que se ela continuasse com os tratamentos ainda estaria viva.
As perguntas são: Existe algo além do que a ciência pode compreender? Os problemas pelo qual ela passava eram distúrbios mentais ou possessão? Como distinguir o que são os distúrbios e o que é possessão?
Com base nessa discussão – que não necessariamente existe um fim – foi realizado dois filmes sobre o mesmo caso. Um se chama “O Exorcismo de Emily Rose” filme norte-americano de 2005 e o outro da Alemanha feito em 2006 chamado “Réquiem”.



O Exorcismo de Emily Rose


Criar um eficiente filme de terror não é tão simples como muitos imaginam. Claro, se assistimos a um filme de fantasmas esperamos pelos sustos, mas não é só os efeitos sonoros e aparições repentinas que sustentam a cena, poucos dão importância para o que é realmente importante e eu simplificaria aqui como: Atmosfera
‘O Exorcismo de Emily Rose” é um filme que quer assustar – deixa isso claro desde a primeira cena – mas isso não quer dizer que não traga alguns temas interessantes e discutíveis.
O filme começa nos mostrando a casa de Emily Rose, um ambiente isolado, cinzento e tenebroso, mais tarde veremos uma infestação de gatos que completará o visual depressivo do qual ela viveu seus últimos momentos.
Com o desenvolver da história, somos apresentados a um filme de tribunal, pois depois que Emily morreu o padre Moore, interpretado brilhantemente pelo Tom Wikinson – em todos os momentos o padre se mostra apreensivo, como se estivesse atormentado constantemente por visões macabras – é o suspeito da sua morte. Então a discussão começa e o filme se propõe a falar um pouco sobre os medicamentos e os problemas psicológicos de Emily e como teria sido sua vida se tivesse continuado e do outro lado, muito melhor explorado, o padre e a sua justificação do o porquê fez o exorcismo e querendo mostrar a todos a verdade sobre a história de Emily Rose.
Enfim, como escrevi, apesar de ter um leque de questionamentos possíveis sobre esses dois caminhos ( Doença mental e possessão ) o filme se preocupa em apenas um, não chega a ser um problema, acaba por se tornar uma limitação no roteiro, vendo que nas várias cenas intercaladas com o julgamento em que é mostrada a Emily e seus distúrbios o filme se prepara para provocar medo, e ao meu ver se sai muito bem, mas não há uma cena em que ela procure ajuda médica, por exemplo.
Como filme de terror que quer provocar medo e tem pequenas brechas de conteúdo reflexivo eu acredito que este ‘O Exorcismo de Emily Rose” seja ideal. As cores dos ambientes, figurinos, interpretações do já citado Tom Wikinson e as duas mulheres em destaque Laura Linney como a advogada do padre se envolvendo da trama do misticismo e colocando o seu ceticismo a prova e, claro, Jennifer Carpenter fazendo uma Emily Rose e seus “demônios internos” causarem pavor no público.

Requiem


Requiem é um filme Alemão de 2006, desconhecido por muitos e que trata sobre o mesmo caso verídico que inspirou o filme do ano anterior “O Exorcismo de Emily Rose”. Primeiro, esse não é um filme de terror, muito pelo contrário, ele se aproxima do drama.
Vamos por partes, o filme fala sobre a mesma garota – aqui com o nome diferente, atriz diferente, visual diferente, ou seja, esqueçam o filme norte-americano – só que a diferença é que acompanhamos a menina que sofre de epilepsia e tem problemas com a família e com o passar do tempo, influenciada pela sua falta de informação ( o filme se passa nos anos 70 ) e suas crenças, ela atribui as suas crises à demônios e sugere uma recuperação a base da religião.
O filme começa com a informação de que ela vai para uma universidade fora do seu vilarejo, morar sozinha, e já temos o conhecimento (não a causa) do seu péssimo relacionamento com a mãe, sendo que está é a mais contida com a informação e não se empolga com a evolução da filha.
Sem apelar em nenhum momento, o filme me parece um estudo interessante sobre o ser e o quanto somos inerentes a nossa criação e o que acreditamos. Visto que a mente humana nos direciona para aquilo o que aprendemos ao longo da vida, dificultando assim, atribuir certas coisas a problemas conhecidos pelo homem, ou algo além disso. O engraçado é que a resposta acaba sendo a própria pergunta, não sou um conhecedor de psicologia, mas tomo aqui a liberdade de expressar a minha opinião ou pergunta (dependendo do ponto de vista) que conseqüentemente resumirá todo esse assunto: Será que uma pessoa sem contato, descrente ou indiferente com a religião e seus demônios teria, em suas crises, algum tipo de ligação com possessão demoníaca? ou recorreria – se entregaria – a tratamentos médicos?
Não descarto as possibilidades de que algo além do que meus olhos podem ver possam existir. O fato é que nossa mente é uma das coisas mais complexas e real que existe. Se há histórias como a de Anneliese Michel é para lembrarmos disso.


O Garoto Selvagem

François Truffaut
Dificilmente eu uso a palavra “gênio” para classificar um ator ou diretor – talvez porque não exista muitos. O diretor François Truffaut é uma das raras exceções, quando tomamos conhecimento sobre a sua história e assistimos aos seus filmes, que possuem aquele glamour que só uma Nouvelle vague pode oferecer, fica fácil saber o porquê eu o considero assim.
Jules et Jim, sua obra mais aclamada, é um espetáculo de linguagem, diálogos incríveis, personagens inesquecíveis e complexos e cenas surpreendentes que fazem deste uma obra imortalizada nos corações de muitos cinéfilos ou admiradores de um bom conteúdo.

Criança selvagem


Uma criança selvagem são crianças que cresceram sem quase ou nenhum contato com humanos. Muitas vezes são criadas ou influenciada por animais, na maioria dos casos lobos, mas tem aquelas que sobrevivem sozinhas. O fato é que, sem o contato humano, as crianças não possuem caracteríscas que consideramos normais hoje em dia, o que faz a ciência, filosofia… Se interessar muito por esses inúmeros casos.
Esse tema é alvo de várias discussões interessantes sobre o nosso processo evolutivo e o quão o meio sustenta aquilo que você é – ou acredita ser. Uma das idéias mais interessantes, relacionado a essas questões, é de Jean-Jacques Rousseau e o seu maravilhoso livro chamado “Discurso Sobre a Origem e Fundamentos da Desigualdade Humana”, que vale muito ler para quem se interessar.


O Garoto Selvagem




Num dia de Verão do ano de 1798, numa floresta francesa, foi encontrada por caçadores uma criança selvagem. Levada para Paris, foi observada pelo mais célebre psiquiatra da época, Pinel, que a considerou como um idiota irrecuperável e pelo jovem médico Itard que, ao contrário, considerou ser possível recuperar o atraso provocado não por inferioridade congénita mas pelo seu isolamento total. Para provar a veracidade  das suas razões, Itard pediu a tutela desta criança. Assim, na sua casa em Batignoles, com a ajuda da sua governanta, Mme Guérin, iniciou a difícil tarefa de desenvolver as faculdades dos sentidos, intelectuais e afectivas de Victor, nome pelo qual se passou a chamar esta criança.

O Garoto Selvagem é de 1970, baseado em um livro que conta à experiência pessoal de Jean Itard e o seu processo de educar uma criança selvagem.
Começamos com uma camponesa colhendo bagas na floresta e ela leva um susto ao ver um animal estranho, por sua vez, acaba fugindo. Esse “animal” é, na verdade, um ser humano. Um menino que anda com as pés e mãos, algo semelhante a um gorila, por exemplo. Percebam que desde a primeira cena somos apresentados a uma atuação/exploração corporal do ator Jean-Pierre Cargol impressionante.
Os personagens e suas intenções, evoluções e afetividade são demonstrados de uma maneira que beira o documental, sem muitos diálogos inclusive, possibilitando assim, reflexões ao longo dos 83 minutos de filme. Talvez seja a obra mais direta de François Truffaut, que aqui assume a direção, roteiro e interpreta o professor Itard.
Algo parecido com Charles Darwin e suas preciosas anotações sobre o processo evolutivo, em “O Garoto Selvagem” é feito um estudo sobre um ser humano que fora banido da nossa sociedade atual, e com muito respeito à veracidade dos fatos, assistimos uma história que se desenvolve na medida certa e faz jus ao que se propõe.


Cinema nacional: Meu País



Eu me decepciono cada vez mais com o cinema brasileiro, custo acreditar que em um país que possuí ótimos atores e diretores fique preso em comédias ridículas e dramas espirituais que deveriam ir direto para a tv. Há suas exceções, como tudo na vida e no cinema, mas são bem poucas, e pior, para um filme se destacar no nosso cinema tem que seguir uma fórmula que seria basicamente, pobreza, tráfico, policia, Rio de Janeiro etc.
“Os filmes são o espelho da realidade do nosso país”; Essa é uma desculpa que ouço muito quando falo da mesmice do cinema nacional, o que me da mais desanimo ainda. O cinema sempre mostrou e sempre mostrará a realidade, mas isso não quer dizer que teremos que assistir um mesmo produto com camadas diferentes, posso criar uma lista de filmes Europeus, Americanos ou Asiáticos que falam sobre um problema social sem ser explícito, usando técnicas narrativas, fotografia, atuações, enfim, às vezes eu acho que o cinema nacional julga a sociedade como sendo ignorante – e na maioria das vezes é – mas nem ao menos percebe que o nível intelectual é desenvolvido com o tempo e, talvez, usando o nosso cinema de uma forma mais ousada iria despertar o senso crítico. A pergunta certa é: Será que eles querem isso? Talvez seja melhor sermos dependentes de novelas do que um conteúdo que nos traga conhecimento.

Para terminar, gostaria de escrever – antes de ser julgado – que eu não culpo os nossos cineastas, atores etc
Sei que existem estudantes de cinema que sonham em trazer essa qualidade para nossos filmes e muitas vezes acabam, aqueles que tem melhores oportunidades, recorrendo ao cinema Norte-americano. No fim, minha crítica é quanto ao sistema que envolve a produção de filmes hoje em dia, novelas fúteis já existem na televisão, não precisamos disso no nosso cinema.


Meu País

“Meu País”, filme do diretor Andre Ristum, me despertou o interesse desde quando soube da sua existência, inicialmente pelos atores. Gosto muito do trio Rodrigo Santoro, Cauã Reymond e Débora Falabella e dada à sinopse é de se esperar boas atuações.
Depois que Armando ( Paulo José faz uma rápida participação ) sofre um derrame, seu filho, que estava na Itália a um bom tempo, retorna ao Brasil e reencontra com seu irmão Tiago, um típico playboy, só se interessa por mulheres e festas. Mas o ponto-chave do filme é meia-irmã Manuela, vitima de uma doença mental e que será a base para a ligação dos irmãos.
 Agora escreverei um pouco sobre esse filme que, ao contrário do que parece, me deixou muito orgulhoso.
O filme não é uma obra de arte, digo logo, o que me impressionou nele é a ousadia de seguir um padrão completamente diferente do que estamos acostumados. A começar pela fotografia, que muda conforme a história vai se desenvolvendo – principalmente entre Itália e Brasil – um conteúdo visual distante do que estamos acostumados – aquela coisa colorida, que remete a carnaval, alegria e praia do Rio de Janeiro…
Temos então uma carga dramática que começa pela fotografia e é eficientemente sustentada pelas atuações de Rodrigo Santoro e Débora Falabella, dois atores que são um orgulho para nós, brasileiros, e que aqui comprovam isso com Santoro e seu sutil desespero e Falabella com sua, um pouco exagerada, mas, cativante personagem, principalmente quando é usada para ligar os três irmãos.
Quanto ao novato diretor André Ristum, é muito competente, se continuar nessa linha de direção é uma promessa, sem dúvida.
Enquanto assistia a “Meu País” percebi as inúmeras influências do cinema Europeu e me surpreendi quando, pesquisando sobre, descobri que o diretor foi por bastante tempo assistente de direção em filmes do Rob Cohen e até mesmo Bernardo Bertolucci, surpreendente, tomara que essas influências acrescentem ainda mais em seus próximos filmes.


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