terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Moacir Arte Bruta, 2006

O documentário se preocupa em, unicamente, registrar o ser humano Moacir que, assim como vários outros, possui uma habilidade de expressão artística incrível. Essa afirmação, evidentemente, não tira os méritos particulares de Moacir que, mesmo com suas dificuldades de comunicação e deficiência óssea, assim como a vida extremante simples que leva, consegue exprimir ideias enigmáticas em formas de desenhos, seja no papel, na parede da casa que vive ou em metais, afim de exibi-los para a comunidade em sua bicicleta. Ora, outrora, o mesmo criava sua arte enrolado em lençol, se escondendo do mundo para isolar seus pensamentos em prol ao registro da sua complexa visão.

Arte bruta se refere a arte que parte de alguém sem direcionamento, sem estudos, por assim dizer, a pessoa não resgata e/ou se inspira em outras técnicas para fazer a sua, parte do interior pessoal, quase um auto-didata. Bem, isso em termos técnicos, realmente, pois se analisarmos, o mundo nos oferece milhares de referências há todo instante, a forma que você utilizará para moldar a sua arte só diz respeito as suas necessidades, alguns fotografam, outros se declaram, outros discutem e, claro, tem aqueles que pintam.

A arte de Moacir é uma mescla entre o misticismo e a sexualidade, há certamente alguns mistérios que envolvem a sua composição, aliás, o próprio afirma que tem visões de demônios e/ou aparições estranhas. Bem, a sua capacidade artística não é obra de um problema psicológico, porém, se existe algo eles coexistem. Sua simplicidade dos traços lembram muito uma visão infantil, no mesmo tempo, o conteúdo sexual - em uma das suas obras temos um homem, aparentemente deformado, chupando o próprio pênis - assim como os demônios que ele registra, são elementos maduros e, sendo assim, levantam um grande mistério, ainda mais pois o seu redor é muito simples, o povoado não consegue muito bem aceitar bichos chifrudos e mulheres peladas, o que resulta em alguns atritos, inclusive. Porém, com a eventual fama do humilde artista - até internacional - os vizinhos parece que vão, assim como o Moacir, direcionando as suas cabeças para o poder que existe ali, mesmo que não o entendam completamente. Enfim, vamos combinar que é impossível entender, visto que o próprio Moacir não consegue explicar algumas de suas obras, mas certamente os faz com maestria.

Em dado momento temos a participação do artista plástico Siron Franco que, com a costumeira arrogância de um analisador de artes, se coloca como oposto de Moacir, ainda mais, surge como uma metáfora da distância entre um primitivo e um moderno, onde por mais que se deem bem, ambos fazem uma obra, percebemos que, ao final, Moacir necessita "engolir" o seu trabalho, de forma a aproveitar o espaço quase que por completo, restando aos rabiscos de Siron, serem uma composição da visão de Moacir. Perfeito!

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