segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Arrugas ( 2012 )


 

Arrugas, ou "Rugas", é uma animação espanhola dirigido pelo Ignacio Ferreras que, em 2002, fez um curta metragem encantador, de 3 minutos, chamado "How to Cope with Death", onde temos uma vovó combatendo - literalmente - a morte. A senhora está dormindo, então a "caveira" chega atrás dela e, de repente, ela começa a dar chutes e socos e, por fim, vence mais essa luta. Fica claro que outras lutas virão assim como ficou claro, para mim, a capacidade/necessidade do Ignacio em falar sobre a velhice.


Em 2012 ele volta e diz aquilo que ficou subtendido em 2002, realiza uma animação poética. Não diria que é um filme para adultos. É um filme maduro para pessoas maduras. Pessoas que sabem que a vida acabará um dia. Que, mais cedo ou mais tarde, também estaremos no "altar de cima" e, nem sempre, chamaremos esse lugar de paraíso.

"Arrugas", baseado nos quadrinhos homônimos de Paco Roca, é um longa 2D que viaja através das rugas de Emilio. Um velhinho que acaba de chegar no asilo e, descobrimos ao longo, que este está nas fases iniciais de Alzheimer. Ele faz amizade com Miguel, um senhor simpático e inteligente que já se acostumou com a vida naquela prisão - como o mesmo brinca logo nas cenas iniciais.


Miguel ajuda Emilio na adaptação, mostra os lugares e, principalmente, apresenta para ele outros vovôs e vovós. Mas, o que mais chama atenção, é a sutil reflexão que o longa tráz sobre a morte. E a morte, da qual me refiro, não é o último suspiro. É a morte do esquecimento. Do existir sem se lembrar, do existir e, aos poucos, se apagar.

Emilio está na fase inicial de Alzheimer e luta para não chegar ao "andar de cima", onde todos os velhinhos já chagaram ao estágio "final". Andar de cima é o lugar onde você não tem controle sobre o corpo e, muito menos, sobre sua própria vida. Agora, o mais interessante, como é viver sabendo que seu dia chegará?



Um dos filmes mais fortes que eu já assisti. A dor que eu senti - e não quer dizer que não gostei do filme - é maior do que em "Amour", do Haneke. Eu tenho 18 anos e a velhice é algo que, estranhamente, não passa pela minha cabeça. Penso sobre a morte e já é difícil acreditar que isso é real. Mas, por algum motivo, não tinha pensado em morrer existindo, digo, não me enxergava nessa situação. Então a oportunidade que o filme me deu é me colocar nessa situação. A realidade - óbvia, muitas vezes - chegou até mim de uma forma muito forte. 

Ao contrário do que muitos podem pensar, a animação não é triste. Isso se deve aos fatos engraçados, a leveza dos traços etc. O diretor é extremamente feliz em fazer do filme um asilo. Um ambiente triste, confuso mas, ao mesmo tempo, rico. 


A chegada do Emilio é de se lembrar eternamente. Ele está inseguro com a novidade de se estar em um lugar desconhecido e, então, essa sensação o faz lembrar - e vemos esse flashback - dos tempos de escola, da primeira aula. Ou seja, esse personagem passou a vida inteira no controle, instruindo os novatos no trabalho... O que faz com que o tempo de escola - infância - e o asilo - velhice - se conectem.

Seria impossível destacar todas as cenas marcantes para mim. O potencial do filme está justamente nos detalhes. Os personagens secundários do asilo, por exemplo, são lindos. Cada um tem uma história que completa a ideia geral do longa. Há, citando alguns exemplo, uma senhora que guarda todos os lanchinhos que ela recebe. E, antes disso, sabemos - por meio de fofocas - que ela tem 50 netos mais só um vai visitá-la. Ele a visita então no natal e descobrimos que ela guarda os docinhos para ele. O garoto, por sua vez, é jovem e está ali obrigado. Tratando-a então com falta de educação mas a vovó continua feliz da vida - talvez por se sentir útil e ainda capaz de "comprar" docinhos para seus netos. Uma cena que me marcou muito, mostra em alguns minutos o que certos filmes não conseguem em 3 horas.


Temos, ainda, um casal. O vovô está no tal "estágio final" mas ele não sobe para o andar de cima pois sua mulher, uma vovó que tem saúde, cuida dele o tempo todo. Só que problemas acontecem e os dois tem que subir, pois o estado dele piorou. No mesmo momento vemos a imagem deles sumindo e vamos conhecer a história dos dois. Eles se conheceram quando crianças, a menina brincava com outras garotas quando é abordada por um garotinho.

- Namore comigo?- Ele disse
- Só se você me trazer uma nuvem! - A garotinha afirma. Sabendo que é impossível enquanto as outras garotinhas dão risada ao fundo.

É quando o garoto, inocentemente, começa a pensar em como fazer aquilo. Vai correndo chamar ela, a leva para o sino da igreja e ambos conseguem ficar no "meio das nuvens".




E é isso. Histórias todos temos. Velhos todos ficaremos. E no andar de cima, todos ficaremos. O que fica é histórias. Feitos e possibilidades. Nade na piscina da vida e sinta o que o outro tem a dizer. Compartilhe seus medos e cuide do seu amor. Não tenha medo. Viva e compartilhe, se torne imortal.

Emerson Teixeira Lima


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