quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Luz Escura: A Arte dos Fotógrafos Cegos, 2009


A arte irá além da visão. Se a beleza está no olho do espectador, o que acontece com um fotógrafo que não pode ver? Enquanto o conceito de um fotógrafo cego parece pouco realista, uma oportunidade para demonstrar sua criatividade presenteou três artistas cegos: Peter Eckert, Henry Butler e Bruce Hall. O tema deste documentário está focado na fotografia e cegueira por várias razões, incluindo o feito de criar uma imagem de uma pessoa cega para ser apreciada por aqueles que podem ver.

A fotografia é alvo do meu interesse, principalmente depois que eu conheci cinema a fundo e me apaixonei pelo registro audiovisual. Me pego pensando muito sobre o quão nossa vida é frágil, sem sentido, desde que tenhamos algo que nos motive a continuar lutando, dia após dia. Há muitos tipos de motivação, mas é importante não confundir motivação com obrigação. Quando comecei meu interesse frenético pelo audiovisual, fui alvo de muito preconceito e desconfiança, visto que perdia muito tempo com isso, só conseguia falar sobre isso, ou seja, era muita entrega para algo "sem futuro". Eu realmente fiz do cinema a minha maior obsessão a ponto de ser amigo daqueles que eu assistia, passar horas lendo tudo que podia sobre, enfim, era uma loucura, sem contar que assistia uns 2 filmes por dia.

Tudo estava se caminhando para a arte, expressão, eu precisava urgentemente encontrar algo que eu pudesse usar como um espelho de mim mesmo, sempre estive esperando por isso, só não sabia que seria da maneira que foi. Cinema foi, por muito tempo, o que me manteve vivo, portanto, quando digo que a arte é o meio mais palpável que o homem tem para se imortalizar, falo pensando muito em mim. Não sou absolutamente nada, além de uma história para contar, e como poderia fazer isso? O cinema e a fotografia, além da música, são os canalizadores para o meu maior medo: Ser esquecido. Não que eu queira o mundo inteiro me olhando, pelo contrário, eu amo demais tudo isso ao ponto de ficar observando tanto que até esqueço que também sou um protagonista. 


Enfim, hoje me sinto maduro em relação a essas questões e, buscando entender cada vez mais de fotografia, encontrei esse documentário, que fala sobre as fotos que jamais serão vistas por aqueles que as criaram. Apenas sentidas. Eu sou um fanático pelo sentir, mas eu tenho a opção do olhar, algo que não é possível para eles. 

Já começamos então com uma frase muito interessante, que me fez pensar bastante até chegar a um ponto de não saber se concordo ou não: "Fotógrafos não operam com os olhos, e sim com a mente". Eu trocaria a mente por coração, descartando o racional, claro, para algo relacionado com a relatividade que cerca uma simples foto. Se eu, por acaso, encontrar uma foto de uma senhora sentada em uma varanda e essa foto estiver borrada, queimada, ou seja lá como, beleza, para mim é só uma foto velha. Mas se o dono dela me disser que é da sua vó, que não gostava de tirar fotos e aquela é a única que a família tem dela, isso torna aquilo altamente especial. Portanto, uma foto boa só diz respeito a quem a tirou/olhou/sentiu.



Uma foto é uma invenção acerca de uma visão. É um meio eficaz de brincar de Deus. Imortalizando um momento, outrora especial, agora esquecido. O esquecimento vem muito rápido, o ser humano não é um super humano, temos falhas, e uma delas é não se lembrar de tudo. A captação disso é algo como uma viagem no tempo, aliás, viagens no tempo existem. Na sua história recente, a fotografia serviu até para a morte, com as "post mortem", que não deixa de ser interessante, apesar de assustador. É possível criar mundos e possibilidades diferentes, que vão muito além da visão. O documentário peca por ser muito pequeno, mas ainda assim deixa a reflexão no ar, sobre o fazer arte visual de alguém que não vê, para aqueles que veem. Algo como Beethoven e sua perda de audição, citado no documentário. 

É lindo a comparação da perda da visão com o diafragma. A fotografia existe por causa de algo natural, a luz que nos invade diariamente é a mesma que nos imortaliza. "Porque eu tiro fotos? Para substituir a minha visão. Estou aprendendo a ver novamente."

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...