quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Miss Violence, por Diego Alcantara


Recebemos um comentário muito embasado e de uma dedicação tamanha, referente ao podcast sobre "Miss Violence", filme Grego. Perguntei ao autor, -  que, inclusive, em breve se juntará conosco nas gravações  - o amigo e ouvinte - Diego Alcantara se eu podia postar aqui no blog suas interpretações. Muito bem, está ai:

Muito boa tarde Emerson e Sandro! É uma satisfação poder escrever o meu comentário a cerca do podcast lançado. Antes de tudo gostaria de me desculpar por não ter assistido a tempo a sua indicação de filme, Emerson, o Miss Violence. Ainda bem que fui assistir ao filme em outro momento de minha vida, no qual eu já estava mais estruturado mentalmente. O filme me comoveu e me marcou. Simplesmente assim!

No momento em que cenas mais fortes se passaram eu simplesmente gritei, gritei no desespero daquele que vê e que na excelente descrição do Emerson, se sente uma mosca a observar a vida alheia. Quando me refiro à forte quero deixar bem claro que é mental, assim como grande parte do filme é mental. Logo por ter essa construção o filme se torna mais marcante e maçante por ser algo que digamos assim está repreendido na pessoa.

Queria deixar claro dois aspectos do início do podcast que me deixou muito feliz, por causa do respeito que transmitiram, foi sobre o claro aviso de spoolers e informações que quebrariam a emoção passada pelo filme. O outro foi o embasamento sobre a origem dos filmes gregos e o seu destaque no cinema mundial.

Mas voltando ao filme Miss Violence, certamente alguns pensamentos meu acerca do filme são divergentes do modo que esse ou aquele pensará. Da mesma forma que o de vocês dois Sandro e Emerson, divergiram. Dada as considerações iniciais a partir de agora deixarei todas as minhas observâncias em torno dessa bela arte que me foi apresentado.

Aos minutos iniciais do filme você percebe que algo incomoda naquela suposta cena de alegria que me é apresentada, a felicidade, por assim dizer parece forçada. E as crianças não são condizentes com aquele “teatro” apresentado e encenados por elas mesmas. O olhar baixo das duas mulheres que até então não se consegue descobrir a correlação entre elas demonstra certa passividade para com o avô ancião.

Minutos quando a segunda mais nova das 4 filhas com recém feitos 11 anos, a primeira oportunidade com olhar de extrema certeza e convicção do que queria se atira rumo à morte certa, que é acompanhado pela quebra sonora e faz um quadro estático e agonizante permanecer por mais de 2 minutos.

Nessa pausa sonora o filme me tele transportou para o interior de mim mesmo em busca de respostas do que está acontecendo com esta família e mais especificamente com esta criança, que preferiu a morte em meio de um futuro a uma família “tão querida”. Enquanto você viaja em torno de lembranças (e nesse momento certamente você se remete a sentimentos tão somente seu.) o filme decorre com a família indo de encontro ao corpo estirado no chão. 

Só por este inicio já chocante você tem uma mera impressão sobre o que vai ser dessa família. No meu caso, varias vezes minhas impressões foram quebradas e jogadas ao ar como simples especulações. Por vezes, me senti tipo um vizinho bisbilhoteiro que observa aos outros por um único engulo, como uma fresta na madeira da porta.
Foi essa a explicação mais plausiva que consegui assimilar após assistir ao filme e ouvir ao Podcast. As imagens estáticas realmente dão a impressão que eu, telespectador, sou um intruso e que não deveria estar sabendo ou mesmo compartilhando do que se passa naquela família.

Passado a morte da garota, você acha que a família estará acabada e aniquilada, mas outro levedo engano, a família segue a vida inabalada e ao invés de lembrar-se da garotinha morta, eles dão um jeito de esquecer e apagar qualquer tipo de lembrança e objeto que remetesse a ela. Esse acontecimento marca definitivamente que há algo errado naquela família e você telespectador mesmo sentindo que não deveria, se vê atentado a continuar a descoberta de informações.

Passado outras cenas demonstra o poder que o “avô” tem sobre a família inteira que consiste do “pai-avô”, casado com a mulher anciã mais velha, portanto “avó”, que teve a filha 01 que supostamente teve relações sexuais com o “pai-avô” e teve os outros 03 filhos, sendo composto por um menino e duas meninas uma de 10 anos e outra de recém completos 11 anos, na qual se suicidou e deu todo o desenrolar ao filme. Além deste tem uma jovem que a meu ver seja irmã da filha 01, na qual surgiu de uma segunda relação sexual entre “pai-avô” e “avó”.
(acredito que esteja confuso, contudo sou ruim de lembrar nomes)

O parágrafo acima, só pode ser concluído observando os minuciosos e pequenos diálogos que os atores trocavam. Dentre outras cenas a que me chocou foi o pai-avô levando a própria família para ser estrupada em troca de dinheiro. Naquele momento vários questionamentos foram sendo respondidos. O descaso do “pai-avô” em relação aos empregos encontrados e a ligeira despreocupação quanto a isso me fez perguntar como ele conseguia manter o padrão de vida. A resposta mais que obvia era com o dinheiro da assistência social e com a prostituição das crianças.

Resposta essa que só me foi elucidada com esta passagem e o curto diálogo no carro. Do qual se revelou todo o porquê do suicídio. Este foi motivado pelo fato da jovem irmão da filha mais velha ter contado à pequena que acabara de fazer 11 anos que o seu destino seria aquilo que ela estava passando no carro, a prostituição a submissão e a própria morte interior.

Diante de dada afirmação agora se torna mais compreensível e tangível o sorriso estridente da garota ao pular da sacada do prédio, eu telespectador achava que o filme estaria por fim, por que mesmo sabendo de tal afirmação o clima ainda continuava tenso e escuro, sem nenhuma possibilidade de alegria.

Quando você acha que tudo está ok e o filme vai acabar acontece mais duas cenas marcantes o pai leva a jovem de volta para a casa e noutro dia lhe entrega o dinheiro meio que cobrado do carro. Lembrando que esse dinheiro na verdade é uma alegoria e quando a jovem cobra do pai na verdade ela o afronta demonstrando que mesmo submissa ela não esta complacente com o que esta acontecendo na família.

Junto com o dinheiro entregue o “pai-avô” vai até a filha mais nova, menos de 11 anos e a convida para tomar o tão prometido sorvete, no momento eu achei que o filme já tinha mostrado o que queria e boa. Mas não! O pai o leva na casa de um “amigo” que realmente oferece sorvete a criança, simples e até então inocente ela saboreia o sorvete em primeiro plano e com a imagem sempre estática se observa ao fundo uma suposta negociação na qual “pai-avô” e amigo trocam papeis ou suposto dinheiro.

O pai vem do fundo caminhando lentamente ao primeiro plano e começa a conversar com a filha. Tal abordagem já te deixa apreensivo com o que pode acontecer, na qual tal atrocidade pode ser também cometida a essa garotinha até então inocente em seu mais puro significado. Porem eu incrédulo acreditei na bondade do ser humano e me fudi mais uma vez. O “pai-avô” instiga a criança a dançar uma mesma musica que ela tinha dançado em outro momento.

Recatada ela meio que fica desajeitada por estar em um ambiente desconhecido. O “pai-avô” insistiu mais uma vez e por fim ela se rende e começa a dançar. Ambos, “pai-avô” e amigo observam-na dançar até que depois de alguns segundos o amigo se levanta e vai de encontro à menina, nesse momento a minha cabeça gira e o amor pela humanidade desaparece, cheguei a ficar tonto, falei mal e loucuras por tal atrocidade.

O pai complacente com tudo aquilo naturalmente tira uma foto da criança. Quero salientar que o olhar confuso da criança e buscando resposta para com o pai me emocionou de tal forma que o mínimo de piedade que tinha com ele desapareceram. Nesse momento em meio a duvida e a cara de medo da criança fica a certeza de que o futuro dela seria mudado dali pra frente.

[gostaria de fazer um adendo a respeito da foto, pois esta é uma pratica muito comum entre os pedófilos que são os de tirar foto com suas vitimas]

Não obstante depois da cena mais chocante do filme ao voltar para casa à menina vai buscar socorro a sua mãe que é filha 01 do “pai-avô”. Esta ficou imóvel e se deu a entender que estava acordada e ciente de tudo o que estava acontecendo e mesmo assim não prestou nenhuma ajuda a pobre criança que passara por tal atrocidade.

O “pai-avô” levou a criança para o quarto dormir e enquanto isso a avó deixava clara a minha percepção anterior pedindo para que a filha 01 fosse dormir e ignorasse tudo aquilo. De volta à cozinha, o “pai-avô” oferece uma xícara de sorvete à avó que enquanto a sua presença se faz no ambiente esta um clima tenso e ela faz que nem viu a xícara de sorvete. E continua a lustrar a prataria que esta em cima da mesa.

Ao telespectador mais atento pode se observar que a “super concentração” aos talheres que estão sendo lustrados pela avó é duvidosa e alem disso suspeita. Nesse momento tenso ela lustra 03 facas que “propositalmente” vai da menor até a maior. Nesse momento eu adoraria ser surpreendido ao ver a avó acertar com uma facada bem escancarada a cara do “pai-avô”. Porem isso não acontece, a cena se segue e o “pai-avô” fala à avó que já esta tarde e esta deveria dormir, ignorando-o ela continua as suas atividade e a imagem escurece.

Novo frame sons de passos indo de encontro à tela principal aonde esta a avó indo sentar e é interrompida pelos passos que segue a direita. Novo ângulo a filha 01 detentora dos passos anteriores começa a chamar pelo “pai-avô”, um silencio entre as palavras dela, marca a cena. Preocupada ela abre a porta e novo ângulo é exibido este novo mostra a mesma porta vista por dentro do quarto, ainda no foco a filha 01. Está olha para o lado da câmera, porém vendo supostamente alguém deitado na cama muito provável o “pai-avô”. Ela subitamente sorri e o telespectador sente certo alivio, meio que já prevendo o que esta acontecendo.

Após segundos ela abre a janela o que da a entender que a partir de agora a serenidade e tranqüilidade iria sondar aquela família já que em segundo plano ao abrir a janela se vê um corpo na cama e com as genitálias ensangüentadas, corpo este que supostamente é o do “pai-avô”. E ai o Telespectador respira aliviado, pensando que o sofrimento cessaria, contudo outro levedo engano é transposto, porque ao voltar para a sala aonde a avó se encontra sentada no sofá é observado que ela esta com um olhar de dominação observando a todas as três crianças e todo o sentimento de liberdade sentido há segundos atrás é quebrado repentinamente e assim acaba o filme.

Acredito que o filme trata de um assunto muito tênue, o poder. A dominação, por que em todo o momento apesar de quem fazer as ações muito claro é o “pai-avô”, não se sabe até que ponto os demais membros da família são complacente com tais atitudes.

A meu ver a filha 01 é passível a tudo que acontece daquele jeito por que ela foi a primeira a nascer naquela família logo ela não tinha e não tem noção de certo e errado, porque convenhamos, essa noção é repassada através de convivência, agora imagina, que convivência a filha 01 teve com outras pessoas para criar o senso critico dela?

Muito ao contrario é a filha 02, oriunda de uma segunda relação “pai-avô” e avó. Ela por ser a segunda já tinha um senso critico maior e foi vendo desde sua juventude o que acontecia com a sua irmã mais velha e em contraponto observava que outras famílias já não tinham isso e com base nas contradições sempre que pode confrontou o pai, já que ela foi à única que denunciou os acontecidos para os profissionais na escola. 

Já a avó, tenho minhas serias duvidas, acredito que desde sempre ela foi complacente com tudo e acobertava as atrocidades cometidas, como pode ficar bem claro no decorrer do filme. Também acredito que ela sim vai continuar a tocar o terror na família, tendo assim o poder da vingança, porém não descontado no seu cônjuge, mas sim nos produtos de sua relação.

A percepção desse filme vai muito alem imagens e entra no seu subconsciente. E é este a jogada perfeita que pode ser encontrada nesse espetacular e áspero filme grego. Meus parabéns aos criadores e executores do filme.

Obrigado Emerson por essa experiência que certamente não fosse você nunca teria em minha vida. E desejo que meu comentário seja lido na integra. Um grande abraço e até uma próxima oportunidade.


Diego Alcantara de Almeida

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