sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Miss Violence, 2013


Comecei a olhar para o cinema grego com o clássico filme "Nunca aos Domingos", não que eu tenha amado o filme, simplesmente o assisti e, após descobrir onde fora realmente produzido, fiquei imaginando como a cultura grega poderia afetar o seu cinema. Digo isso por que todos sabemos que, culturalmente falando, a Grécia é um dos países mais ricos. Toda sua história encaminha para uma grande teia de arte pura, onde o homem é posto como interlocutor de suas próprias expectativas. Mas esse estranhamento passa depressa, principalmente quando nos deparamos com diretores como Theodoros Angelopoulos que, honestamente, eu colocaria no patamar "artista diferenciado, extremamente visceral". 

Em 2012 assisti "Kynodontas" e achei incrível. Fiquei chocado com tamanha exposição de crueldade, que em poucos momentos se revela visualmente, digo, uma intenção cruel. É incrível quando um filme choca sem nenhum motivo aparente, aqui temos o choque desde o início, nem ao menos precisamos saber do que se trata. Falo isso porque existe inicialmente um estranhamento sobre os fatos e, só depois, começamos a entender o que se passa com a família protagonista de um horror registrado. 


Também se preocupando em dissecar a "alma de uma família", Miss Violence, de 2013, pode-se traduzir como um soco no estômago. Sim, bem doloroso. Daqueles que sabemos que existe muito mas, por artifícios simples como ser simples, a história se desenvolve e, a cada minuto que passa, o gosto amargo na boca cresce. 

Conta a história de uma menina que, no seu aniversário de 11 anos, se suicida pulando da janela do seu apartamento. Deixando sua família - duas irmãs, irmão, avô/pai, mãe e avó - tristes com sua perda (?) Na verdade, essa tristeza comum (?) não acontece o que começa a causar um desconforto em promotores que avançam no caso em buscas de respostas sobre o que esconde aquela família.


O "desconforto dos promotores" não é só dos promotores, acontece principalmente com os espectadores, aliás, eu diria que o filme é movido por um desconforto inabalável. Logo no início temos uma festa de aniversário, tomada por um clima fúnebre, fingido e tosco, a menina caminha em direção a janela e, antes de pular, olha profundamente para a câmera/nossos olhos - ou seja, quebrado a quarta parede - como se quisesse avisar o que estava acontecendo. Aos olhares atentos, fica claro que o filme percorrerá a exploração, o que não é previsto é qual das tantas ele se tratará. 


Retomando as comparações, é inevitável não lembrar de "Dente Canino"/"Kynodontas" e do diretor Haneke, cuja obras estão muito próximas ao contexto sombrio apresentado aqui. Em "Miss Violence" temos inúmeras cenas onde a família tem seus rostos cortados dentro do enquadramento, ou seja, acompanhamos as suas ações, seus corpos, tudo, menos seus rostos, ironicamente simbolizando a relação monstruosa que existe naquela que podemos chamar de qualquer coisa, menos família. Curiosamente, temos o mesmo artifícil usado por Haneke em "O Sétimo Continente".

Filme silencioso, e o silêncio aqui machuca bastante. Claro, principalmente com a conclusão dessa aproximação fria. Nada fica muito claro ao longo, nem mesmo quem é a mãe, quem é a avó, quem são os filhos, ou melhor, fica claro. Ou melhor, não existe mãe, filhos ou avó, muito menos avô/pai. 

É... há cenas impactantes que, se eu analisasse aqui, comprometeria a "surpresa" no final, então fico no... tudo isso é real. 

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