terça-feira, 9 de setembro de 2014

Catfish, 2010


Esse documentário mexeu comigo por inúmeros motivos, dentre eles o meu próprio vício a tecnologia. Não, não me entendo como um "expert" no assunto, um geek ou algo parecido, mas no mesmo tempo me considero sim um dependente. Tudo que faço hoje se mistura a tecnologia, inclusive meu trabalho. Voltando a fita um pouco o meu dia-a-dia é cheio de internet, Whatsapp, Facebook, Twitter, Blogger, são ferramentas que eu utilizo com uma certa frequência e, todas elas, me direcionam para um mesmo ponto: não me sentir só.

Não que eu seja um cara altamente recluso, ando percebendo que até mesmo os, outrora, populares, se desprenderam do toque e estão medindo suas ditas popularidades com curtidas virtuais, ou seja, o teu sucesso independe do que é na realidade e sim o que tem a oferecer no seu espaço virtual, como se ela fosse uma extensão do seu ser, melhor ainda, o seu cartão de visitas.

Estaria sendo realista - ou pessimista - se afirmasse que, hoje em dia, a maioria das relações estão sendo construídas em base a internet? Não sei, só sei que conheci pessoas incríveis pela internet, pessoas que eu posso confiar, que me ajudaram de uma forma ou de outra e, acima de tudo, me ajudaram a não estar sozinho, enquanto o assunto é cinema. 

Então, foda-se, confesso que sou um dependente. 


Por essas e outras, é fácil imaginar que muitos mantiveram uma relação virtual, sendo assim, é bem provável que o documentário te conquiste logo no seu início. Já começa então o meu fascínio pelo mesmo, o poder do documentário, registro de coisas simples mas, partindo de uma sensibilidade, pode se transformar em uma obra de arte. E é basicamente isso que gostaria de destacar nesse texto, a que se deve a relação do Nev com Megan, como visto ao longo, através da arte.

Nev é um artista, enxerga o ser humano, indiferente a sua figura física, se encanta pela, inicialmente, artista com quem troca olhares - no caso a Abby. Ela manda pinturas baseadas em suas fotografias, o que quero dizer é que se não fosse pela sensibilidade e entrega do Nev não existiria documentário. É claro que isso tira a sua racionalidade - quem nunca a perdeu em algum momento? - mas ele está realmente entregue aos seus sentimentos, independente do modo que está diante dele, ou seja, um sentimento virtual.

Além do mais, a mentira verdadeira da perdida "Megan" me fez relacionar imediatamente com "Close-up" do Abbas Kiarostami, onde o filme deixa a reflexão sobre o quanto uma mentira pode ser considerada arte, isso não quer dizer que qualquer mentira possa ser interpretada assim, mas há uma separação entre maldade e vazio. O vazio faz-nos pensar em coisas loucas, como o passado, aquele mesmo que aprisiona constantemente nosso presente,  de forma que os demônios do "E se" nunca parem de sussurrar nos nossos ouvidos coisas que poderiam ser diferente.

"E se" eu escolhesse ele e não esse?
"E se" eu fosse mesmo morar naquele lugar?
"E se" eu tivesse ficado grávida?
"E se", "E se", "E Se"...

"Megan" - e vou chamá-la assim pois é isso que ela queria mesmo ser - é apenas um fragmento desse "e se". O vazio cria demônios. O vazio cria arte.

"Muitos personagens que surgiram foram apenas fragmentos de mim"

Essa questão esteve e sempre estará presente na nossa vida, do quão criaremos sobre nós mesmos para sermos aceitos pela sociedade. O que me encanta na obra em questão é o amor do protagonista - se é que existe algum. Ele em nenhum momento a julga, pelo contrário, se envolve, de forma que possa gritar que, no fundo, ama a pessoa independente do quanto ela seja irreal. Ele estava diante de uma mentirosa, mas, ali para o documentário, ela é uma artista, e sua mentira era sua grande obra de arte. Vazio.

Ora veja, se ela não se apresentasse como uma menina de 8 anos, será que chamaria atenção o suficiente para manter o contato? Qual será o motivo da nossa seletividade de atenção? 

Em um pano de fundo extremamente denso, me fazendo pensar até em algo sobrenatural, visto que a procura dele por ela parecia muito um filme de terror, talvez seja até pior. Percebemos com esse soco no estômago que a internet envolve muito mais que se expor para pessoas que não conhece, estamos diante a várias pessoas, com visões e atitudes diferentes. Eu mesmo, escrevo nesse blog há quase dois anos, recebo várias visitas diariamente, que por sinal não condizem com o número de comentários, então como posso saber quem é você que está lendo isso nesse exato momento?

Enfim, o vazio é algo realmente muito louco. Talvez a internet seja a verdadeira personificação dela. Abraço e "e se" eu tivesse escrito sobre outro filme?

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