sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Magnólia


Quando tudo se complica, Deus faz chover


No melhor ou pior momento das nossas vidas só uma coisa é certo: Nós aprendemos. Talvez seja exatamente essa a razão – se é que há alguma – para nossa existência. Sempre me senti muito próximo do estranho, cresci assistindo “Edward Mãos de Tesoura” e aquela situação de novidade que tanto assustava o personagem principal sempre me encantou muito. Hoje vejo que isso se dava pela palavra, hoje tão utilizada e, no mesmo tempo tão bonita chamada: Identificação.
É estranho pensar que é possível se identificar com um monstro, objeto ou animal. Pensando bem, esse é o papel da arte... Aliás, o que será que é arte? Não sei dizer, mas eu sinto. Assim como sentia o poder que o audiovisual tinha sobre a minha vida muito antes de entender o porquê.

Cresci em uma época – ou lugar – muito boa. Onde tudo o que você assistia, jogava ou lia era compartilhado com os amiguinhos na escola no dia seguinte. Uma pena que as coisas hoje em dia mudaram um pouco, mas veja o nosso alcance! Não é fantástico? Agora com a internet podemos compartilhar aquilo que gostamos e tornamo-nos seres identificáveis, apesar da distância. 

O tempo passa, coisas acontecem e, a partir de um certo momento – infelizmente não tem como controlar isso – nós crescemos, seja por causa da idade ou responsabilidades. O mais interessante é que a informação e o sentimento passa a ter um outro propósito na sua vida: Te fazer um homem. Foi nesse exato momento da minha inútil, linda e eterna passagem pelo mundo que compreendi o cinema... Ou melhor, compreendi a mim mesmo.


Magnólia

“Talvez já passamos pelo passado mas o passado não passou por nós”

Com treze anos assisti um filme chamado “Magnólia”. Costumo dizer que tudo tem um momento certo e, apesar de achar que eu fui um pouco precoce, acredito que essa experiência me ajudou a enxergar as coisas de uma maneira diferente, mesmo que o meu redor dite o contrário.  Como um pai ensina um filho a jogar bola, Paul Thomas Anderson me ensinou a amar, me amar.

Muitos filmes contam a história de uma longa vida, poucos contam a história de um momento. Muitos mostram um só personagem e sua caminhada ao sucesso, mas poucos mostram o homem e sua origem.  Sendo assim, o ponto crucial de Magnólia está na sua sinceridade perante as eternas crianças que o assistem. Crianças que, assim como os adultos, tentam incansavelmente encontrar o amor, se encontrar.

“Eu tenho muito amor para dar, só não sei onde colocar” – Frase do Donnie Smith, personagem interpretado pelo William H. Macy

Começamos com o narrador. Ele nos apresenta três histórias que mesmo sendo tão fantástica, é estranhamente muito real, principalmente na sua mensagem. O fato é que ele abre uma
discussão sobre o que é coincidência. E, para aqueles que teimam em continuarem céticos, o narrador os convida para assistir uma grande história/verdade de 188 minutos onde será abordado o amor, destino e, principalmente, arrependimento.

Depois disso, como uma flor desabrochando delicadamente, vamos conhecendo cada personagem de uma forma que se cria um elo entre todos desde o início. Fazendo com que absolutamente todas as cenas sejam um fragmento de uma só mensagem. Todos os personagens tem um mesmo propósito, criando-se também uma linda conexão com as músicas da cantora Aimee Mann.

“Um é o número mais solitário” – “One”


Eis que surge um personagem que resume em um espetáculo para homens, toda a primitividade que nos cerca. Representando então, a essência.

“Respeitem o pênis e domem a vagina! Homens nasceram para comandar: É biológico, antropológico e animal”Frank T. J. Mackey

Isso mesmo, homens desprezam, usam, não choram... Não? Mas veja que ironia, o próprio T. J. Mackey termina o filme chorando, em uma cena de desabafo, tanto do homem quanto do universo. Sapos?!

Seja Claudia Gator e seu vício, Linda Partridge e sua culpa, Jim Kurring e sua bondade, Phil Parma e sua paciência, Jimmy Gator e sua doença ou Earl Partridge e sua morte, todos estão juntos. Não há respostas, não existe nada além de, simplesmente, existir. E, para fazer o bem, tanto para sí próprio como para o outro, basta compartilhar.
O filme termina, não por  acaso, com um sorriso, esperança. Se uma menina que fora violentada pelo pai tem a chance de sorrir novamente, então nós também temos. 

“...Como Peter Pan, ou como o Super-homem
     Você aparece... para me salvar.
     Venha e me salve
     Se você puder, salve-me,
     Do grupo dos esquisitos,
     Que suspeitam que nunca irão amar ninguém...” - Save-me


Em um tempo onde eu questionava muito as ausências que existiam em minha vida,  P. T. Anderson me deu de presente uma oportunidade. Dizem que algumas coisas acontecem independente das suas ações, mas, quando penso nisso, e lembro do quão leve e sincero foi os meus primeiros contatos com o cinema,  e da forma que ele me salvou, sinto que tudo o que nós vemos ou fazemos em nossa vida, nos transforma de alguma maneira. Esse é o propósito da vida, e, claro, esse é o objetivo da arte. 

4 comentários:

  1. adorei este texto!
    Singular e muito sincero.

    beijos.

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  2. Adorei, adorei e adorei! É tudo o que posso dizer! E, sinceramente, eu não sabia que esse filme Magnólia (que eu não vi,por incrível que pareça), é assim tão lindo, como você o define! Preciso vê-lo urgente! Nunca é tarde ..
    Beijos!

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  3. Gostei de ler o texto. Gostaria de conhecer mais. Acabei de assistir o filme e tenho esse mesmo sentimento sobre a arte cinematográfica. Até!

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