segunda-feira, 3 de março de 2014

A Pequena Loja de Suicídios


Em um mundo imerso em depressão e desesperanças, uma família ganha a vida vendendo artigos para ajudar pessoas a cometerem suicídio. Entretanto, os negócios da família enfrentam problemas quando o filho caçula decide mudar de uma vez por todas essa realidade. Baseado no romance de Jean Teulé.

Mesclando o charme Francês com a depressão que ronda o nosso dia a dia - independente do país, estado, cidade etc. - eis que surge essa animação melancolicamente palpável. A pressa que vivemos hoje e a necessidade de se encaixar na sociedade tira a possibilidade de fazer aquilo que realmente gostamos. Construindo, então, uma geração fracassada. No sentido amplo da palavra, o se sentir fracassado por nunca ter tentado mudar, seguir o rumo que sempre sonhará. Muitas histórias despertam esse desejo oculto pela liberdade, no cinema temos, por exemplo "The Master" do Paul Thomas Anderson, em livros podemos citar o "Apanhador no Campo de Centeio" e assim por diante.

A liberdade está jogada na arte, pois vários artistas veem nela uma real possibilidade de ser universal. Por essa e outras coisas, eu acredito fielmente que "A Pequena Loja de Suicídios" é um filme que fala de todos e, consecutivamente, para todos. Ainda que entregue com amor, mesmo diante a sua depressão e repulsa. Ele é carinhoso, extremamente, eu diria. 


No maior estilo Tim Burton, temos personagens esquisitos, um tanto quanto distorcidos. Desde o seu visual até sua própria existência. Claro que a loja já se apresenta como um personagem importantíssimo para a trama - inclusive eu o considero o personagem principal - mas os personagens brilham muito, pois são eles que ajudam a construir uma certa "admiração" pela loja. Entendemos o que é a loja através da música, já fica claro que eles vendem a morte e, sendo assim, os clientes deles nunca voltam, ou melhor, não podem voltar. Então é comum que seja dito ao cliente coisas como "péssimo dia", "adeus", etc. E, agora pergunto, não é exatamente assim que nos comportamos hoje em dia? Caros amigos, pensem comigo, quantas páginas no Facebook existem com o nome "depressão"? Depressão da coruja, depressão da psicologia, filosofia etc. Além, claro, dos inúmeros vídeos de meninas divulgando a automutilação. Não que eu esteja dizendo que seja frescura, coisa de gente boba, pelo contrário, eu dou muita importância ao que se sente, principalmente jovens, mas nossa geração fora criada para não gostar das coisas. Por isso é mais fácil escutar um rock pesado do que ouvir pessoas chatas falando coisas imbecis. Será?

O próprio blog Cronologia do Acaso é uma prateleira de melancolia. Até porque eu só escrevo em base à ela, por sinal, eu não consigo escrever sem música. Blues, Jazz, Indie, Folk, são algumas coisas que escuto para escrever. O que elas tem em comum? A "liberdade". Nem que seja do bom gosto ( ^__^ )

Voltando ao filme


O pai vende a morte e o faz como uma arte. Ele se empolga, canta, sabe tudo sobre o ato de se matar. Porém, continua vivo - irônico isso né? Temos uma inversão de objetivos sobre o ato da venda. Se na nossa realidade queremos sempre que o cliente volte as nossas lojas, somos obrigados a forçar uma simpatia para isso - sim, estou falando com vocês atendentes de loja de sapato, que eu costumo ignorar porque sou chato - no filme eles querem o contrário, fazer mal ao cliente e, depois disso, desejam que eles nunca mais voltem, pois só assim saberão que continuam sendo perfeitos. Só que esse esquema acaba por fracassar com a chegada do filho otimista que, unido com as próprias experiencias pessoais com a morte, eles vão tomando conhecimento do que fazem e porque não fazem consigo mesmo. A depressão, então, deixa de ser vendida para que, assim, possa ser absorvida. 

A depressão nunca esteve ali, prova disso é as cores vibrantes da loja, muito diferente do clima sombrio, cinza, daquela cidade ( Mundo? ). O filho representa justamente o otimismo, o sorriso. Ele traz as cenas mais lindas, como aquela em que faz sua irmã dançar nua, se libertando das amarras da melancolia depositada por seus pais. O fato de estar nua só engrandece ainda mais, onde temos todos os amiguinhos do protagonista bobos com aquela mulher linda e ele continua imóvel com um olhar extremamente doce. Como se o fato de estar despida só exaltasse ainda mais a verdade do momento.


Com canções extremamente deliciosas, "Le Magasin des Suicides" consegue, no seu final, ser otimista. Pelo menos eu tive uma vontade enorme de viver depois de assistir. Eles me venderam a morte para, só assim, entender o valor da vida. 

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