terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Cinema Paradiso


Minha vida sempre foi movida pelo audiovisual, lembro que passava o dia assistindo desenhos, séries e filmes, isso já aos 5 anos. Zorro, aquela série antiga, eu amava. E vários outros clássicos como A Bela e a Fera, O Rei Leão, os filmes da sessão da tarde... Engraçado, tinha um em especial que eu amava: Rambo.

Sim, é realmente bizarro uma criança gostar, é mesmo. Mas comigo era diferente pois eu era obcecado, toda vez que ia na casa do meu tio eu pedia para ele colocar a fita, meu tio, por sinal, tinha uma coleção extensa de fitas, eu amava brincar com elas. Tinha até filmes gore que eu lembro muito bem. Então meu tio me ensinou a gostar de filmes de ação, junto com o meu pai.

Meu pai, bem ausente no quesito sentimento, me faz relacioná-lo até hoje com os nossos pequenos momentos assistindo Bruce Lee, Charles Bronson e Van Damme. Misturado a toda essa dose de testosterona, minha mãe era ( é ) minha companheira da sessão da tarde. Aqueles filmes geniais como De Volta para o Futuro, Mãos de Tesoura, Lagoa Azul, enfim, como eu aprendi. Seja pelos próprios filmes que me deliciava, ou com os momentos que o envolviam. Minha mãe está até hoje nessa comigo, cinema se tornou uma ligação extremamente significativa na nossa vida, e eu diria que é o que me liga com todas as outras pessoas. 

Passando o tempo, mudanças me transformaram e o cinema foi, aos poucos, esquecido. Aquela magia da sessão da tarde não me encantava como antes, meu coração não correspondia com a mesma inocência. Enfim, fui crescendo. Em um momento difícil, aos treze anos, encontrei um filme chamado "Magnólia", até hoje não entendo como encontrei essa obra que fala sobre o amor e religião, no seu sentido mais profundo, se ligar ao outro. Ainda incapaz de entender tudo o que o filme tenta passar, aliás, até hoje me sinto incapaz, me tornei realmente uma criança "brincando de se encantar", por isso pesquisei os outros trabalhos do Philip Hoffman, Julianne Moore, William H. Macy, Melora Walters, Tom Cruise, John C. Reilly e, claro, do diretor Paul Thomas Anderson.

Me dediquei na profissão de pesquisador do cinema pouco conhecido, acho que queria assistir aqueles que não tinha muita voz. Me identifiquei com os gritos e desabafos do Todd Solondz, Wes Anderson, Gaspar Noé, Woody Allen, Dorota Kedzierzawska, Lukas Moodysson, Abbas Kiarostami, Jafah Panahi, e tantos outros nomes. Ia ao cinema, sozinho, e chorava com a grandiosidade do sentimento que despertava no meu coração, um sentimento tão forte de se estar entregue e ser visto. Nem que seja por uma tela gigante, com pessoas/atores igualmente gigantes. Tudo era muito grande para mim, pobre garoto, muito pequeno.

Não sei mais se escolhi o cinema, ou ele me escolheu. Não sei mais se ele é audiovisual ou eu sou. Me sinto como uma grande produção, com o carinho de um criador que só quer contar a sua história. Respiro cinema mesmo quando nada está relacionado à ele ( ou sempre está? ) encontrei nessa arte a junção das demais, o meio mais rápido para entrar em contato com uma outra cultura, um outro olhar, uma outra vontade, uma outra necessidade. Necessito, hoje, do cinema, de pessoa. Muito mais do que sentar e ouvir eu anseio por gritar tudo o que sinto. Aprendi que a vida é isso, desabafo contínuo. Nem que seja de você para você. Na rua, nas escolas, no cinema, na empresa, somos apenas grandes zeros. Infinitos.


Aprendi que não existe amor por cinema, existe amor à vida. Cinema é um reflexo da sua postura diante dos problemas do dia a dia. É o despimento pessoal de preconceitos bobos para, enfim, poder aceitar a diferença. Aceitar, aceitar, aceitar... Essa palavra ecoá na minha cabeça o tempo todo, me aceitar não é uma tarefa fácil, me ver como mais um também não. Não que eu me sinta melhor, pelo contrário, enfim, tentar justificar só vai piorar. Talvez seja a minha influência, assisti muitas comédias românticas e aprendi a ser clichê, assisti muito Chaplin e aprendi a fazer humor do drama e vice-versa.

Precisamos de algo que nos mova todos os dias, algo que torne nossa essência maior do que simplesmente "estar vivo".  Precisamos acreditar em Deus para seguir em frente, precisamos de um criador. Portanto eu digo, com todo o respeito do mundo, que o meu Deus se chama cinema. Não à sala lotada de gente comendo pipoca, não a loja do shopping, não o "Thor". A expressão. Cinema para mim se faz no exato momento que uma criatura, por amar o seu criador, compartilha pelo simples fato de ajudar. Se registrar isso, melhor ainda, mas existem inúmeros diretores nas ruas que me fazem me emocionar com tamanha capacidade de feder verdade. 

É isso, cinema é a verdade que existe em cada um. É o quanto eu posso, mesmo sendo humano e errando, olhar para alguém e poder admirar sua sinceridade. É ser amigo, seja colorido ou não, é querer bem e fazer o bem. 

É isso, cinema é a verdade que existe na maldade. A verdade no sexo. A verdade no gozo. A verdade no sorriso. A verdade da verdade.

Cinema é vida, amém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...