Dificilmente eu uso a palavra “gênio” para
classificar um ator ou diretor – talvez porque não exista muitos. O diretor
François Truffaut é uma das raras exceções, quando tomamos conhecimento sobre a
sua história e assistimos aos seus filmes, que possuem aquele glamour que só
uma Nouvelle vague pode oferecer, fica fácil saber o porquê eu o considero
assim.
Jules
et Jim, sua obra mais aclamada, é um espetáculo de linguagem, diálogos
incríveis, personagens inesquecíveis e complexos e cenas surpreendentes que
fazem deste uma obra imortalizada nos corações de muitos cinéfilos ou admiradores
de um bom conteúdo.
Criança
selvagem
Uma criança selvagem são crianças que cresceram sem
quase ou nenhum contato com humanos. Muitas vezes são criadas ou influenciada
por animais, na maioria dos casos lobos, mas tem aquelas que sobrevivem sozinhas.
O fato é que, sem o contato humano, as crianças não possuem caracteríscas que
consideramos normais hoje em dia, o que faz a ciência, filosofia… Se interessar
muito por esses inúmeros casos.
Esse
tema é alvo de várias discussões interessantes sobre o nosso processo evolutivo
e o quão o meio sustenta aquilo que você é – ou acredita ser. Uma das idéias
mais interessantes, relacionado a essas questões, é de Jean-Jacques Rousseau e
o seu maravilhoso livro chamado “Discurso Sobre a Origem e Fundamentos da Desigualdade
Humana”, que vale muito ler para quem se interessar.
O
Garoto Selvagem
Num dia de Verão do ano de 1798, numa floresta
francesa, foi encontrada por caçadores uma criança selvagem. Levada para
Paris, foi observada pelo mais célebre psiquiatra da época, Pinel, que a
considerou como um idiota irrecuperável e pelo jovem médico Itard que, ao
contrário, considerou ser possível recuperar o atraso provocado não por
inferioridade congénita mas pelo seu isolamento total. Para provar a veracidade
das suas razões, Itard pediu a tutela desta criança. Assim, na sua casa em
Batignoles, com a ajuda da sua governanta, Mme Guérin, iniciou a difícil
tarefa de desenvolver as faculdades dos sentidos, intelectuais e afectivas
de Victor, nome pelo qual se passou a chamar esta criança.
O
Garoto Selvagem é de 1970, baseado
em um livro que conta à experiência pessoal de Jean Itard e o seu processo de
educar uma criança selvagem.
Começamos
com uma camponesa colhendo bagas na floresta e ela leva um susto ao ver um
animal estranho, por sua vez, acaba fugindo. Esse “animal” é, na verdade, um
ser humano. Um menino que anda com as pés e mãos, algo semelhante a um gorila,
por exemplo. Percebam que desde a primeira cena somos apresentados a uma
atuação/exploração corporal do ator Jean-Pierre Cargol impressionante.
Os
personagens e suas intenções, evoluções e afetividade são demonstrados de uma
maneira que beira o documental, sem muitos diálogos inclusive, possibilitando
assim, reflexões ao longo dos 83 minutos de filme. Talvez seja a obra mais
direta de François Truffaut, que aqui assume a direção, roteiro e interpreta o
professor Itard.
Algo
parecido com Charles Darwin e suas preciosas anotações sobre o processo
evolutivo, em “O Garoto Selvagem” é feito um estudo sobre um ser humano que
fora banido da nossa sociedade atual, e com muito respeito à veracidade dos
fatos, assistimos uma história que se desenvolve na medida certa e faz jus ao
que se propõe.
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