Há inúmeras questões, mas tomei como exemplo uma criança, porque elas
são testemunhas claras do que pretendo dizer - Ivan Karamozov
É com essa oportuna frase que começo meu texto. Que não somente resume o
filme sérvio "Lilika", como também toda uma pesquisa minha
voltada para a relação da criança com o meio. Sou um admirador há anos de
filmes que extraem da criança - leia-se inocência - sua visão perante a
realidade. Pesquisando audiovisual do mundo todo, me deparei com o cinema Sueco,
que nos brinda com uma sensibilidade única com filmes como "Flickan",
"Elina - Som om jag inte fanns", "4-Ever Lilya"
do Lukas Moodysson diretor que, inclusive, tem todo um trabalho dedicado ao
jovem.
4-Ever Lilya |
Flickan |
Elina |
Como perceberam, eu procuro no cinema alternativo a criança, é fácil
perceber que esses filmes tem muito em comum. Aliás, unido com o silêncio
Europeu, fica realmente maravilhoso acompanhar a descoberta dos nossos pequenos
heróis. Com isso, temos a querida Dorota Kedzierzawska, diretora polonesa com
uma dedicação inacreditável em registrar todo o processo da vida. Ora, se
dúvida, assista "Nic", sobre as dúvidas de uma mãe,
"Corvos", o cuidado, "Eu Existo", o sem ninguém e, por
último, "Hora de Morrer", a velhice. Seus filmes traçam a história do
homem, eu, você, qualquer um. Ninguém. Somos todos frutos da mesma
indecisão/amor/carinho/abandono. Dorota - como a chamo carinhosamente, ou
simplesmente por não saber pronunciar o sobrenome - é a musa da minha vida e
certamente vale ser citada pois, assim como o filme que escreverei, se encaixa
perfeitamente na frase inicial.
Lilika
Filme Sérvio de 1970, dirigido pelo Blanko Plesa, que mais tem trabalho
como ator do que diretor. Essa obra é tão difícil de achar que nem eu lembro
como consegui. Então infelizmente não vou conseguir colocar o link pra
download, mas merece a investigação de pessoas que entendem melhor do que eu de
torrent. Enfim, conta a história da pequena Sandic milica - interpretada
brilhantemente pela Dragana Kalaba - que é mal tratada constantemente
pela mãe que, por sua vez, é mal tratada pelo marido. Ou seja, uma família disfuncional
que faz com que, a menina, só tenha atenção para uma pessoa: Seu irmão, ainda
bem novo. Ela não liga nem para ela mesma, honestamente. É tanto que começa fazendo
pequenos furtos de frutas para o irmão, até se tornar em algo rotineiro. Unido
a isso, temos a descoberta sexual, que se apresenta de forma bem sútil, mas
muito significativa. Sútil até porque ela não se preocupa com as suas próprias
experiências, tudo está muito vago para a pobre garota, seus desejos são
deixados de lado pelas suas obrigações.
Sempre com o mesmo vestido cinza, exteriorizando o seu coração, são
poucas mas especiais as cenas em que ela é criança. Destaco a mais linda do
filme:
Ela fala para o seu amigo que poderá fugir se a instituição for pegá-la,
por causa dos furtos, extremamente preocupada em deixar o seu irmão com os
"pais" ela convida o seu amigo para fugir com ela e, como recompensa
oferece um beijo, mas um beijo como os adultos. Claro que, depois dessa cena,
lembrei imediatamente do "Eu Existo", onde tem uma cena muitíssimo
parecida com essa e igualmente maravilhosa. A dor do abandono faz com que a
maturidade bata na porta antes do esperado. A vida se torna uma estrada chata,
sem parques de diversões e sem gargalhadas. O beijo se torna um símbolo de
crescimento, um beijo como adulto representa uma prisão.
Prisão esta que está presente á todo momento, acompanhado por uma trilha
intimidadora, "Lilika" tem um desenrolar triste, nada se
explica, tudo se mostra. Tem que estar disposto a ouvir o silêncio e, como bons
adultos, nos tornamos crianças para ouvir algo que não se fala. O olhar diz
muito.
Uma história banhada em guerra, como a própria garotinha narra o quanto
a guerra prejudicou sua vida, ironicamente a própria brinca que está em uma em
dado momento. Com uma pitada de abuso, abuso psicológico, abuso pelo abandono e
outros que ficam escondidos, só visíveis para os dispostos a entender, o filme
é um tesouro perdido.
que meninas lindas que bençao de Deus, fotos magnificas
ResponderExcluirhttp://cinenina.blogspot.com/2017/07/lilika-1970.html
ResponderExcluir