Quão louco é estar por aqui, saudade
daqueles nossos olhos vidrados perante algo que é, aos olhares
adultos, extremamente simples, a criança cria um universo próprio,
repleto de dúvidas e soluções divertidas, lembro que, ao passear
de carro a noite, eu ficava observando a lua me acompanhando, brincava que ela vinha comigo para qualquer lugar que fosse. Lembro
também dos faroestes que assistia, eram os meus heróis, minha
imaginação saltava e, rapidamente, eu estava vestido de Cowboy,
andando desengonçado – estilo John Wayne – mas destemido, esse
era meu passatempo, imitar meus heróis da TV. Inclusive já pensei
em ser super herói de verdade, defender a cidade com minha bicicleta
e alguma espada de plástico. Uma construção, perto da casa onde eu
morava, se tornou um castelo, cuja terra eu utilizava para escalar e
matar dragões... Enfim, falo da minha infância, por que não tem
como assistir Mary e Max e não lembrar de você mesmo, tentando
definir o que falaria, o que perguntaria, quando criança, para um
amigo em Nova York.
O filme começa destacando detalhes da vida de Mary, deste patins jogados, até a caixa de correio – que virá a ser quase um veículo de sensações para ambos protagonistas – o narrador, então, define a menina pelos olhos e a mancha marrom na testa, o segundo faz parte de um incômodo que a menina levará consigo durante toda sua vida, enquanto o primeiro, bem, os olhos/visão, soarão ultrapassados ao longo, dará a vez ao coração, as palavras, o quanto elas podem ser sinceras sem as máscaras do toque.
O filme começa destacando detalhes da vida de Mary, deste patins jogados, até a caixa de correio – que virá a ser quase um veículo de sensações para ambos protagonistas – o narrador, então, define a menina pelos olhos e a mancha marrom na testa, o segundo faz parte de um incômodo que a menina levará consigo durante toda sua vida, enquanto o primeiro, bem, os olhos/visão, soarão ultrapassados ao longo, dará a vez ao coração, as palavras, o quanto elas podem ser sinceras sem as máscaras do toque.
Do outro lado temos Max, um senhor que
se arrasta por entre uma estrada de concepções. A sua vida me
parece tão fascinante quanto identificável, envolto de um preto e
branco, surge como uma ironia muito grande New York nessa animação,
afinal, quando aparece a plaquinha com o nome da cidade, ela recebe
três tiros, como um aviso. Se não bastasse, as pessoas estão
sempre esquisitas. Fazendo nosso querido Max parecer inofensivo, no
meio de tanta insanidade destrutiva, a piada com o peixe, por
exemplo, é ótima.
Mary e Max são opostos, estão em
fases diferentes da vida, porém, em vários outros aspectos são
idênticos, reparem que eles assistem aos Noblets por motivos
diferentes mas, por fim, ressaltam que os personagens possuem muitos
amigos. Enfim, é tão poderoso esse questionamento de vidas
isoladas/separadas, perdidas no mundo, quando, em algum outro lugar,
alguém precisa ouvir e falar as mesmas coisas que você.
Uma lista telefônica nos apresenta inúmeros nomes, todos esses nomes tem histórias diferentes, todos esses nomes já foram crianças, Mary imagina como eles são fisicamente, mas será que naquele momento eles estavam bem? Estavam cuidando de seus filhos, que vieram de um copo de cerveja, estavam olhando outras listas telefônicas, estavam se drogando...? O quê todos essas pessoas desconhecidas fazem o tempo todo, o porquê somos tão fragmentados? A vida as vezes parece ser meio solitária, ai lembramos que não é possível que estejamos sozinhos nessa, existem sombras de nós mesmos, espalhados pelo mundo, pequenos pedacinhos de procura, enfeitando nossa existência pois, cedo ou tarde, serão encontrados(das).
Quando assisti pela primeira vez, tanto Mary quanto Max mexeu muito comigo, me identifiquei com os dois personagens, mas o Max era uma facada no estômago, sua visão de mundo, bem como sua ausência fazia com que cada frase sua soasse como um desabafo meu. Eu sempre fui muito entregue, mas em dada etapa da minha vida minha boca não dizia aquilo que minha cabeça pensava, eu não agia, pois o medo de me enfrentar não permitia que eu questionasse o quão importante eu era para essa peça de teatro brilhante também conhecida como existência.
Uma lista telefônica nos apresenta inúmeros nomes, todos esses nomes tem histórias diferentes, todos esses nomes já foram crianças, Mary imagina como eles são fisicamente, mas será que naquele momento eles estavam bem? Estavam cuidando de seus filhos, que vieram de um copo de cerveja, estavam olhando outras listas telefônicas, estavam se drogando...? O quê todos essas pessoas desconhecidas fazem o tempo todo, o porquê somos tão fragmentados? A vida as vezes parece ser meio solitária, ai lembramos que não é possível que estejamos sozinhos nessa, existem sombras de nós mesmos, espalhados pelo mundo, pequenos pedacinhos de procura, enfeitando nossa existência pois, cedo ou tarde, serão encontrados(das).
Quando assisti pela primeira vez, tanto Mary quanto Max mexeu muito comigo, me identifiquei com os dois personagens, mas o Max era uma facada no estômago, sua visão de mundo, bem como sua ausência fazia com que cada frase sua soasse como um desabafo meu. Eu sempre fui muito entregue, mas em dada etapa da minha vida minha boca não dizia aquilo que minha cabeça pensava, eu não agia, pois o medo de me enfrentar não permitia que eu questionasse o quão importante eu era para essa peça de teatro brilhante também conhecida como existência.
Sei lá, é confuso a vida. As vezes
olho para trás e percebo o quanto as pessoas foram importantes na
minha vida, não necessariamente amigos, muitas vezes só conhecidos.
Talvez não haja grande separação assim, ou talvez eu, naquele
momento, não parei para refletir sobre o a verdadeira função
daquela determinada pessoa na minha transformação, é claro que
sempre resta estar só para evoluir, mas sem o outro não somos
ninguém, não conseguimos nada. Eu sempre fui muito dependente da
palavra, principalmente as verdadeiras, então minhas relações
foram sempre construídas através de muito diálogo, com a Internet
isso ficou ainda mais gritante. Quando escrevo aqui, por exemplo, eu
tenho o costume de me imaginar sozinho, mas é questão de tempo para
perceber que alguns estão lendo, sendo assim, posso estar ajudando
alguém, assim como esse alguém pode estar me ajudando. O mundo se
tornou bem mais pequenininho. É um grande outro lado do mundo, fico
feliz por ter conhecido pessoas que me fizeram – e continuam
fazendo, mesmo que distantes – bem.
O pai da Mary gasta o seu tempo com
amigos mortos, a mãe vive embriagada, existe uma pressão grande
ali, um sufocamento, mesmo assim o ser mundo permanece colorido, como
se a idade representasse uma esperança por um dia melhor, uma outra
possibilidade, há tanta sensibilidade nisso, há tanta tristeza em
se pensar, reparem como a música “Que Sera Sera” encaixa bem
nesse filme:
Quando eu era apenas uma menina,
Perguntei para minha mãe, '
O que vou fazer?' Vou ser bonita? Será que vou ser rica?
E ela disse isso pra mim: Que Sera Sera,
Quando eu cresci e me apaixonei,
Perguntei ao meu amor, o que virá depois. Haverá arco-íris, dia-após-dia?
E o meu amor me disse: Que sera, sera,
Agora eu tenho meus próprios filhos
Eles perguntam a sua mãe o que serão Vou ser bonito? Vou ser rico?
Digo-lhes com ternura Que sera, sera,
Perguntei para minha mãe, '
O que vou fazer?' Vou ser bonita? Será que vou ser rica?
E ela disse isso pra mim: Que Sera Sera,
Quando eu cresci e me apaixonei,
Perguntei ao meu amor, o que virá depois. Haverá arco-íris, dia-após-dia?
E o meu amor me disse: Que sera, sera,
Agora eu tenho meus próprios filhos
Eles perguntam a sua mãe o que serão Vou ser bonito? Vou ser rico?
Digo-lhes com ternura Que sera, sera,
Ela
apresenta três etapas da vida, nas três existe um conflito, para as
três existe apenas uma respostas, as coisas são como são, parece
óbvio, mas há apenas uma única oportunidade, pra quê questionar a
forma, quando o que realmente importa é o processo. Tudo é uma
questão de processo. Eu sou fotógrafo, amante de cinema, a visão
para mim é tudo... no mesmo tempo nada. É muito conflituoso todo e
qualquer tipo de análise de filme, mas aquele que te toca é ainda
mais complicado, as letras fogem do controle, assim como a desordem
organizada da vida de Max, sua Tv grande tem som e não tem imagem,
sua Tv pequena tem imagem e não tem som, parece que ele precisa
sempre estar colando pequenas coisinhas, com simplicidade de sentir e
criar significados sobre tudo, é tão forte para mim assistir hoje
em dia meu velho amigo, é um reencontro marcado por emoção, assim
como eu me pego em uma fase completamente nova e, meu querido Max,
deixa de ser igual, passa a ser uma lembrança. Como é forte para
mim seus animais, os diversos sanduíches de chocolate, as invenções
culinárias, sua vida cheia de sonhos, cujo doutor os classifica como
imbecis, queria pedir com gentileza para esse doutor não ser tão
duro com meu amigo, tolo é não sonhar, tolo é não viver, tolo é
não ter amigos. Quando
começa a tocas “Coro a bocca chiusa”, no final, fica claro que
eles se conhecem, o pote de leite condensado foi dividido há muito
tempo, desde, talvez, o começo dessa história, na iniciativa de
mandar uma carta, na coragem de responder, na vontade de continuar,
não precisa necessariamente da distância, bem como o estar perto
não diz muitas coisas, o sincero transcende o espaço, está dentro
de você, dentro de todos nós. Ame, sonhe, compartilhe, tenha
amigos... até aqueles que já foram.
Dedico
esse texto há uma pessoa que mora em uma das gavetas mais especiais
do meu coração, dedicada a palavras jamais esquecidas, de longas
conversas indecifráveis. Obrigado pela paciência, por acreditar em
mim de alguma forma, por ser sincera e sarcástica em diversas
oportunidades, você viu de longe uma transição curiosa, como te
disse uma vez, algumas pessoas são anjos... Fazem rir.
Com carinho, Emerson Teixeira. Seu amigo de Santa Branca,
Com carinho, Emerson Teixeira. Seu amigo de Santa Branca,
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